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IDENTIDADE CULTURAL

Depois dos Kadiwéu, projeto que empodera mulheres indígenas vai divulgar artesanato dos Terena e Kinikinau  

Projeto compreende que o artesanato, além do seu simbolismo e valor artístico, é uma atividade rentável e promove o empoderamento das mulheres indígenas

27 fevereiro 2022 - 05h38
Cultura Indígena inspirou e deu contorno a projeto cultural, científico e socioeconômico.
Cultura Indígena inspirou e deu contorno a projeto cultural, científico e socioeconômico. - (Foto: Reprodução/GOV MS)
Terça da Carne

Artesanato indígena de Mato Grosso do Sul, descoberto pelo “etnoturismo involuntário”, tornou-se objeto de estudos e, além de ganhar espaço em museus da Europa e “ateliês” de estilistas do mundo da moda, inspirou e deu contorno a projeto cultural, científico e socioeconômico.

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É o “Projeto de Pesquisa em Cerâmica e Promoção da Comunidade e Cultura Kadiwéu”, realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em parceria com a University of Manitoba, no Canadá, a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia (Fundect) e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, sob coordenação do professor Antônio Hilário Urquiza, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFMS, e da antropóloga Viviane Luiza de Souza, da University of Manitoba.

Eles investigam como se dá a conexão dos povos indígenas de várias etnias com o passado, sua influência nos dias de hoje, como se expressam através dos trabalhos manuais e de que modo a arte se constituiu em pilar de subsistência e sobrevivência. No processo de investigação antropológica, a equipe de pesquisadores viu que o artesanato, além do seu simbolismo e valor artístico, é uma atividade rentável e capaz de promover o empoderamento das mulheres indígenas.

Centro Cultural Kadiweu na Aldeia Alves de Barros, em Porto Murtinho, revitalizado pelo Governo do Estado.
Centro Cultural Kadiweu na Aldeia Alves de Barros, em Porto Murtinho, revitalizado pelo Governo do Estado (Foto: Reprodução/GOV MS)

Daí o surgimento do projeto, dividido em duas fases, começando pela Aldeia Alves de Barros, da comunidade Kadiwéu, em Porto Murtinho, na fronteira com o Paraguai. Em dezembro do ano passado o Governo do Estado inaugurou as obras de revitalização do Centro Cultural Kadiwéu, onde foram investidos R$ 295,4 mil. O espaço ganhou estrutura para a produção artesanal e também vai contribuir para as atividades extracurriculares dos estudantes. Além da revitalização do Centro Cultural Kadiwéu, foi criada uma associação com as artesãs, que fará a análise econômica e ativará um site para a comercialização das artes nos mercados nacional e internacional. O artesanato será mostrado em exposições virtuais. Em uma segunda fase, o espaço terá também uma loja-museu.

Para realização da segunda fase, o Governo do Estado irá investir R$ 640 mil no projeto científico, em convênio assinado pelo governador Reinaldo Azambuja e o reitor Marcelo Turine. Mais comunidades da etnia Kadiwéu terão espaços para capacitação e produção artesanal, incluindo a organização das mulheres em associações.

Em Mato Grosso do Sul, além dos índios da etnia Kadiwéu, os Terena também têm intensa atividade na produção de peças à base de argila. Praticamente todos os centros culturais e lojas de artesanato e exposição no Estado dispõem de uma diversidade de cerâmicas Kadiwéu e Terena. Peças e fotografias largamente compartilhadas por turistas despertaram a atenção de um outro setor – da moda. Por conta do grafismo, o povo Kadwéu descobriu, tudo por acaso, através do etnoturismo involuntário, uma estratégia de sobrevivência.

Além dos Kadiwéu, os Terena também têm intensa atividade na produção de peças à base de argila.
Além dos Kadiwéu, os Terena também têm intensa atividade na produção de peças à base de argila. (Foto: Reprodução/GOV MS)

O que chama a atenção são os grafismos. O sucesso das pinturas corporais, em cerâmicas e objetos de design é comemorado agora, mas o trabalho de divulgação da arte começou há mais de seis anos e há quatro anos Viviane e equipe desenvolvem o “Projeto de Pesquisa em Cerâmica e Promoção da Comunidade e Cultura Kadiwéu”.

Coexistência pacífica e produtiva

O pesquisador Antônio Hilário Urquiza vê com satisfação o processo de empoderamento das mulheres indígenas, situação que vai deixando para trás o estigma de pobreza e isolamento das comunidades indígenas. Segundo ele, a produção de cerâmica e de outros tipos de artesanato não contribui apenas com o sustento - ela desempenha um papel importante na vida familiar, na transmissão da cultura e também conecta as artesãs indígenas com a natureza.

Em reportagem publicada pelo site UOL, no ano passado, Keyciane Lima Pedrosa, da Funai (Fundação Nacional do Índio), destacou o processo produtivo, que começa com a seleção do barro, moldura dos potes e a marcação dos desenhos com fibras de caraguatá [uma espécie de bromélia] e a cobertura dos potes com resina de pau-santo.

Riqueza dos grafismos Kadiwéu e Terena

O grafismo Kadwéu é marcado pela disposição de elementos geométricos, considerado como características das sociedades hierárquicas e impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes. Os finos desenhos constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara.

As mulheres Kadiwéu produzem, igualmente, belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. Decoram-nas com padrões que lhes são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. Os pigmentos são envernizados com a resina do pau-santo.

Indígenas da aldeia urbana Água Bonita, em Campo Grande.
Indígenas da aldeia urbana Água Bonita, em Campo Grande. (Foto: Reprodução/GOV MS)

Já os padrões do grafismo usados pelos Terena são basicamente o estilo floral, pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Assim como os Kadiwéu, os Terena produzem peças utilitárias e decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira (cobras, sapos, jacarés que são chamados de bichinhos do Pantanal), além de cachimbos, instrumentos musicais e adornos. Os Guarani-Kaiowá produzem, além dos utensílios, instrumentos musicais, como o afoxé (chocoalho), armas (arco e flecha) e variados adornos, cocares, pulseiras e colares.

Expansão da produção Artesanal

Pesquisadora Viviane Luiza comemora criação da Associação de Mulheres Artesãs Kadiwéu.
Pesquisadora Viviane Luiza comemora criação da Associação de Mulheres Artesãs Kadiwéu (Foto: Reprodução/GOV MS)

O objetivo da historiadora Viviane Luiza de Souza é promover o empoderamento de mulheres também de outras etnias, como a Terena, e isso se dará também com a revitalização dos centros culturais rurais e urbanos, onde a produção artesanal é exposta e comercializada.

Segundo Viviane, ela e os antropólogos Hilário Urquiza e Andrea Caravaro agora vão se dedicar em promover a produção das etnias oleiras Terena e Kinikinau, com extensão à aldeia São João, “que tem uma configuração especial, pois lá residem os três povos oleiros: Terena, Kinikinau e Kadiwéu na terra do povo Kadiwéu. “Pretendemos agregar os Kinikinau e os Terena no projeto de geração de renda e iniciar um trabalho de etnoturismo na aldeia Alves de Barros, com capacitação para recepção dos turistas atendendo a uma vontade dos próprios moradores da aldeia”, antecipa.

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