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CINEMA INDÍGENA

Curta-metragem com elenco 100% indígena é filmado em Douradina e Dourados

Hendy'a Rapykwere une realidade, ficção e espiritualidade para retratar jovens indígenas LGBTQIAPN+ e marca um passo inédito no cinema nacional

11 setembro 2025 - 08h15Redação
Bastidores de gravação em território de retomada em Douradina (MS)
Bastidores de gravação em território de retomada em Douradina (MS) - (Foto: Marcus Teles)
ENERGISA

As gravações de Hendy’a Rapykwere chegaram ao fim na última semana em Mato Grosso do Sul. O curta-metragem de 17 minutos foi filmado em um território de retomada em Douradina e na aldeia Jaguapiru, em Dourados — a maior aldeia urbana indígena do Brasil. A produção tem elenco 100% indígena e equipe técnica formada em sua maioria por pessoas negras, pardas e indígenas do interior do estado.

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A narrativa é guiada por Gualoy KG, jovem Guarani-Kaiowá de 20 anos, liderança do coletivo Juventude Indígena Diversidade Guarani/Kaiowá MS. Ele levou para o roteiro e para as telas vivências pessoais e de outros jovens LGBTQIAPN+ indígenas, transformando em arte a luta contra o preconceito e o peso de violências históricas.

Elenco 100% indígena dá vida à narrativa que mistura ficção, realidade e espiritualidadeElenco 100% indígena dá vida à narrativa que mistura ficção, realidade e espiritualidade

No enredo, surge a figura de Tybyra do Maranhão, indígena Tupinambá executado em 1614 e considerado o primeiro assassinato LGBTQIAPN+ das Américas. Interpretada pela atriz trans indígena Andrya Kiga, do povo Bororo (MT), Tybyra aparece como guia espiritual e símbolo de resistência.

“Minha inspiração vem da cosmovisão indígena, dessa forma de enxergar o mundo em que o real, o mítico e o espiritual caminham juntos. Esse filme só existe porque é coletivo”, explica o diretor Marcus Teles.

 Direção e equipe técnica ajustam cena em espaço comunitário Direção e equipe técnica ajustam cena em espaço comunitário

Para a produtora e roteirista Michele Kaiowá, gravar no território Guarani-Kaiowá foi também um ato político. “É uma afirmação de que precisamos mostrar ao mundo a luta de jovens indígenas LGBTQIAPN+. Estamos registrando não só a dor, mas também a força e a espiritualidade de um povo que resiste para existir.”

O filme mistura documentário, ficção e realismo fantástico. A água, presente em várias cenas, simboliza dor e cura. O colar entregue por Tybyra ao protagonista é um elo entre passado e futuro.

 Filmagens contaram com colaboração direta de lideranças indígenas locais Filmagens contaram com colaboração direta de lideranças indígenas locais

Mais que uma produção artística, Hendy’a Rapykwere se torna uma ferramenta de memória e denúncia. “O audiovisual pode ser espelho e megafone. Para os povos indígenas, fortalece a identidade e reafirma memórias; para a sociedade em geral, é um chamado à escuta e ao respeito”, resume Marcus Teles.

Elenco e equipe do curta durante gravações na aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS)Elenco e equipe do curta durante gravações na aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS)

Com as filmagens concluídas, o curta segue agora para montagem e finalização. A previsão é que circule em festivais, mostras e debates em universidades públicas, reforçando a representatividade do cinema indígena LGBTQIAPN+ no Brasil.

Personagens representam resistência e identidade da juventude indígena LGBTQIAPN+Personagens representam resistência e identidade da juventude indígena LGBTQIAPN+

A obra tem apoio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Ministério da Cultura, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

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