
A Comunidade Quilombola Tia Eva resiste ao tempo e às transformações da cidade. Fundada no fim do século XIX por Eva Maria de Jesus, conhecida como Tia Eva, o quilombo urbano se tornou símbolo de luta, ancestralidade e pertencimento negro em Mato Grosso do Sul.
Hoje (20), embora o feriado tenha sido oficializado em 2024, a realidade vivida por boa parte da população negra sul-mato-grossense segue marcada por vulnerabilidade econômica, exclusão territorial e invisibilidade social.
Com 428 moradores, dos quais 326 se autodeclaram quilombolas, a Comunidade Tia Eva foi oficialmente reconhecida como território quilombola em setembro de 2025. O espaço, de 21,5 hectares, abriga a centenária Igreja de São Benedito e um busto da matriarca que fundou o quilombo, elementos que mantêm viva a memória da luta negra urbana.
Segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso do Sul tem 2.757.013 habitantes, dos quais 46,93% se declaram pardos e 6,50% pretos. A análise racial cruzada com indicadores de renda e moradia revela um cenário de profunda desigualdade.
Entre 2012 e 2023, o número de lares compostos exclusivamente por pessoas negras subiu para cerca de 419,5 mil, representando 40,8% do total estadual. No entanto, a renda média nestes domicílios permanece significativamente inferior à de lares brancos. Nos dados mais recentes, 64,2% dos lares com renda de até um salário mínimo são chefiados por pessoas negras, enquanto a maioria dos que ultrapassam esse valor (55,8%) são de pessoas brancas.
Consciência Negra além do discurso - Em novembro de 2024, a Prefeitura de Campo Grande lançou o programa "Novembro Negro", com ações da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CPPIR).
A proposta é ampliar o debate sobre desigualdades e visibilizar a cultura afro-brasileira. Ainda assim, a concentração da população negra nas regiões periféricas da capital, com menor acesso a serviços e oportunidades, escancara o quanto a cidade ainda carrega marcas da exclusão estrutural.
Busto de Eva Maria de Jesus, a Tia Eva, em frente à Igreja de São Benedito, na Comunidade Quilombola Tia Eva, em Campo Grande, símbolo da resistência e da ancestralidade negra no estado.

