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NOSTALGIA

Com pandemia do novo coronavírus, reativação do Autocine da UFMS volta a ser opção viável

Em 2017, a Reitoria da Universidade chegou a ensaiar uma parceria com o Sesc para reativar o drive-in, mas não avançou

11 maio 2020 - 18h07Da Redação
O Autocine da UFMS, antes muito procurado por casais de namorados, está desativado desde 1989.
O Autocine da UFMS, antes muito procurado por casais de namorados, está desativado desde 1989. - (Foto: A Crítica)

A pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19) está fazendo com que as opções de lazer da população sejam revistas para evitar a contaminação das pessoas pela doença que está ceifando vidas em todos os cantos do planeta. Uma área muito afetada pela Covid-19 é a do cinema, que, devido aos protocolos de segurança estabelecidos pela OMS (Organização Mundial de Saúde), passou a ser considerado um lugar proibitivo e cujo o funcionamento está vetado.

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Com isso, os autocines, famosos na década de 70 do século passado, podem voltar à moda por conta da pandemia, pois permite ao público assistir aos filmes de dentro dos próprios veículos diante das telas enormes instaladas a céu aberto. Em Campo Grande (MS), o retorno do drive-in ressurge como alternativa para a prevenção do contágio da doença junto aos apreciadores da velha e boa sétima arte, pois, a cidade conta com o Autocine da UFMS, construído nos anos 70 no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, mas que está desativado há 31 anos.


O Autocine da UFMS foi construído nos anos 70 no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, mas que está desativado há 31 anos

Em janeiro de 2017, a atual Reitoria da UFMS até anunciou o início das conversas para estabelecer uma parceria com o Sesc com foco na revitalização do antigo drive-in, porém, a pauta não avançou e outros destinos culturais foi pensado para o espaço, mas padece de recursos para a intervenção e revitalização. A diretora-regional do Sesc, Regina Ferro, foi procurada pela reportagem do jornal A Crítica e revelou ser interessante a retomada do projeto em razão de o empreendimento se tornar atrativo em tempos da Covid-19, porém, a revitalização do cinema a céu aberto requer disponibilidade e recursos, além de interesse da UFMS, que é a proprietária da área.

Inaugurado em 1972, o Autocine da UFMS foi o primeiro e único drive-in de Campo Grande e, por muitos anos, abrigou diversos espectadores. Na Internet, ainda é possível encontrar imagens da época, que mostram a quantidade de carros estacionados no espaço gigantesco, de frente para uma tela, mas que atualmente está abandonado, tomado pelo mato e com o concreto cheio de pichações no lugar onde antes eram projetados os filmes.

Regina Ferro recorda que a parceria com a UFMS foi proposta pelo reitor Marcelo Turine, que, na época, queria fortalecer as parcerias estratégicas para a realização conjunta de novos projetos. "A ideia era transformar a área do Autocine da UFMS em um grande espaço de cultura com palco para apresentação de shows e até a instalação de um food truck para fornecer alimentação para os frequentadores do espaço", recordou a diretora regional do Sesc, condicionando a retomada do projeto ao interesse da Universidade.


Quando ainda estava em operação, o drive-in era o ponto de referência da Cidade Universitária

No entanto, a revitalização do Autocine da UFMS necessitaria de um parecer técnico para avaliar o que poderia ser feito com a estrutura atual. O Sesc, sempre que assume um espaço, não costuma realizar grandes alterações, mas preservar a história já existente no local, como foi feito na Morada dos Baís e no Museu da FEB (Forças Expedicionárias Brasileiras), que foi revitalizado para receber programações culturais.

O Autocine foi criado em 1972 e somente funcionava dentro da universidade, pois pertencia à Rede Pedutti, que escolhia os filmes e contratava os funcionários. Para o público ouvir os diálogos, na portaria o motorista recebia um alto-falante e conectava-os nos "chapéus", uma espécie de poste com fiação para saída de som. A parceria acabou em 1983 e, seis anos depois, em 1989 foi desativado.

Quando ainda estava em operação, o drive-in era o ponto de referência da Cidade Universitária. A estrutura física do autocine era uma lanchonete, a sala de projeção, o pátio com os cogumelos contendo os alto-falantes, o telão de cimento, a portaria com a entrada e saída para carros e a bilheteria. Os recursos oriundos dos bilhetes do autocine eram destinados, através de uma portaria da Reitoria, para compra de livros para a biblioteca central e das bibliotecas das unidades que compunham a universidade.

Mobilização
A retomada do Autocine da UFMS ganhou força depois que a empresária Vanessa Rodrigues Feitosa Pavan, que é proprietária de uma agência de monitoramento, postou na sua conta pessoal no Facebook um pedido para que o retorno do antigo drive-in. O post foi direcionado à Reitoria da UFMS, à Diretoria-Regional do Sesc, à Superintendência do Sesi, ao Sebrae/MS, à Assembleia Legislativa, à Câmara de Vereadores, ao prefeito Marquinhos Trad, ao governador Reinaldo Azambuja, à senador Simone Tebet e aos vereadores Otávio Trad e João César Mattogrosso.

Vanessa Rodrigues Feitosa Pavan até sugere que, se alguém tiver a iniciativa de reabrir o cinema drive-in, poderia usar como som dos filmes o sistema de Bluetooth ou por FM. "Você paga a entrada, estaciona seu carro, assiste seu filme de máscara de dentro do carro (leva suas guloseimas devidamente higienizadas), mantém a distância de um carro para o outro. Podia até passar uns filmes do século passado, eu ia assistir, só para lembrar como o cinema é bom e como, pelo menos para mim, faz falta", traz a postagem.


O pedido da empresária Vanessa Rodrigues Feitosa Pavan ganhou força nas redes sociais

Ouvida pela reportagem do jornal A Crítica a empresária conta que o post "comoveu" várias pessoas e muitas estão replicando a ideia de reativação do Autocine da UFMS. "Várias pessoas se comoveram com a minha opinião, em que expliquei o que daria para fazer, gosto muito de cinema, frequento muito aqui em Campo Grande. Gosto muito do modelo drive-in, eu já viajei bastante pelo Brasil e para outros países, onde conheci vários tipos de drive-in, todos muito organizados e seguros em São Paulo (SP), nos Estados Unidos e até na África do Sul", recordou.

Para a empresária, o diferencial seria o de não passar filme comercial, só os mais culturais. "É legal ter essa oportunidade aqui para Campo Grande. Infelizmente, quando eu nasci, em 1984, não tive a oportunidade de frequentar o autocine da UFMS, mas sempre ouço as pessoas falarem como era, fazia parte da cultura da cidade. Neste momento atual, devido à pandemia da Covid-19, seria interessante ter essa opção de lazer, desde que fossem assegurados todos os protocolos de segurança", alertou.

Ela completa que o preço também teria de ser acessível à população. "O local hoje está parado, bem deteriorado pela ação do tempo. Não sei se a UFMS tem interesse de revitalizar, quem sabe fazer uma parceria com o Sesc para reativar o local, acredito que há interesse de muita gente em ser parceiro da Universidade nesse projeto. Até entendo que qualquer projeto com o Governo Federal tem muita burocracia, mas poderia ter uma brecha para que eles possam reativar ainda durante essa pandemia, pois hoje os nossos cinemas são todos dentro de shopping centers e fica impossível de frequentar devido à doença. O drive-in seria para prestigiar o cinema de qualidade nacional e internacional", cobrou.

A assessoria de imprensa da UFMS foi procurada pela reportagem do jornal A Crítica, mas, até o fechamento desta matéria não enviou nenhum posicionamento sobre a reativação do AutoCine. O reitor Marcelo Turine também foi procurado, por meio de ligações telefônicas, mas também não retornou as ligações.

Retorno do drive-in é fenômeno nacional e internacional
O fechamento dos cinemas tradicionais devido à pandemia novo coronavírus (Covid-19) traz à tona o velho drive-in, que foi comum em vários países, nos anos 70 e 80, que ressurge como alternativa para a prevenção do contágio. No passado, era comum famílias inteiras irem se divertir à noite em um autocine, sem sair do carro, porém, com o avanço da tecnologia, esse modelo caiu em desuso e as gerações mais recentes só conheceram pela televisão, em filmes de época.

A proposta do autocine é retomar a indústria do cinema e, ao mesmo tempo, garantir a segurança sanitária dos espectadores dentro dos próprios automóveis a fim de evitar o contágio. Na Alemanha, por exemplo, 43 licenças já foram aprovadas para abrir autocines no início de março, enquanto nos Estados Unidos, onde a maioria dos 5.548 cinemas permanece fechada, os cinemas drive-in também estão ganhando adesão cada vez maior.

Na década de 50, auge do cinema "de dentro do carro", os Estados Unidos contavam com 3.000 espaços. Hoje, 25 dos cerca de 300 drive-ins estão em operação, segundo a Associação de Proprietários de Cinemas Drive-In dos EUA. Um deles era em Ocala, na Flórida, que está funcionando sete vezes na semana, exibindo, por exemplo, o novo "Trolls" e a reprise de "De Volta para o Futuro".

Porém, o velho drive-in teve de introduzir novas medidas de segurança, incluindo baixar a capacidade de carros e pedir aos funcionários que usem máscaras e luvas e que os clientes façam seus pedidos de comida online. Eles também verificam a temperatura dos funcionários a cada três horas. Além de exibir filmes, os donos dos drive-ins estão se preparando para utilizar o espaço para cultos, formaturas, shows ao vivo e reuniões de igreja.


O Autocine foi criado em 1972 e somente funcionava dentro da universidade

Em Nova York, o governador Andrew Cuomo, embora tenha expressado simpatia pelo cinema drive-in, o Estado não permite que eles funcionem durante a quarentena, já que não é um serviço essencial. Mas os proprietários de lá estão animados com a chegada do verão e o provável relaxamento do isolamento. Há ainda esperança de reabertura de drive-ins em Massachusetts, logo após o fim do confinamento. O problema, no entanto, será a falta de lançamentos.

Quem também está se preparando para a volta do cinema drive-in é a Argentina. Conhecido como autocine, eles já anunciaram o retorno, assim que puderam voltar às atividades normais. Nos próximos dias, a Argentina deve flexibilizar a quarentena e, assim, a Cinergia Agency vai poder montar seu cinema ao ar livre. No Brasil, algumas ações já começam a despontar. Já está em funcionamento na Praia Grande, no litoral paulista, o Cine Drive-In, uma parceria do Litoral Plaza Shopping com a exibidora Cinesystem.

Estão ocorrendo duas sessões diárias, no estacionamento do shopping, com ingresso, por pessoa, a R$ 15,00, com parte do valor revertido para o Fundo Social de Solidariedade da Praia Grande. Há venda de pipocas doces e salgadas, chocolates e refrigerantes. Os atendentes estão utilizando máscaras e luvas. Os cardápios são plastificados para que a higienização possa ser realizada antes e depois do manuseio. Álcool gel para funcionários e clientes estão disponíveis. Segundo decreto municipal, o uso de máscara é obrigatório também para os clientes. Os ingressos estão sendo vendidos pelo site da cinesystem.com.br.

Em Curitiba, o restaurante Madalosso, um dos mais tradicionais da capital paranaense, vai usar o espaço de seu estacionamento, com capacidade para aproximadamente 900 carros, para fazer um evento de cinema ao ar livre e de acordo com as normas de segurança e saúde. A pipoca será trocada por polenta frita e refrigerante, os combos serão vendidos on-line e o ingresso será uma doação, revertida para uma campanha solidária. Não será permitido sair do carro, nem mesmo para ir ao banheiro.

Confira a postagem na rede social Facebook:

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