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IDENTIDADE REGIONAL

Artesanato de MS impulsiona economia criativa com saberes tradicionais e identidade regional

Setor movimenta mais de R$ 4 milhões em 2024 e ganha projeção nacional e internacional com peças únicas que traduzem a alma sul-mato-grossense

2 setembro 2025 - 07h22Maria Edite Vendas
Artesanato retrata Mato Grosso do Sul e, consequentemente, toda a diversidade cultural e étnica que compõem a formação histórica e social dos sul-mato-grossenses
Artesanato retrata Mato Grosso do Sul e, consequentemente, toda a diversidade cultural e étnica que compõem a formação histórica e social dos sul-mato-grossenses - (Foto: Álvaro Rezende/Secom)
Terça da Carne

Com raízes fincadas na cultura popular e forte conexão com os saberes tradicionais, o artesanato de Mato Grosso do Sul tem se consolidado como um dos pilares da economia criativa do Estado. Com mais de 8 mil artesãos oficialmente cadastrados, a produção artesanal vem ganhando mercado, visibilidade e reconhecimento dentro e fora do Brasil.

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De Campo Grande a Miranda, passando por Corumbá e Caarapó, o que se vê é uma rede ativa de profissionais que transformam argila, fibras, madeira, vidro e tecidos em obras que carregam memórias, histórias e identidades. Cerca de 4 mil desses artesãos fornecem suas criações diretamente para a Casa do Artesão, na capital sul-mato-grossense, vitrine permanente do talento regional.

A ceramista Jane Clara Arguello, de Corumbá, é um dos nomes de destaque dessa cadeia produtiva. Atuando desde 1991, ela une design, arte e sustentabilidade em peças que retratam a força de mulheres indígenas, negras e japonesas. “Cada peça que produzo carrega uma história. É arte, é memória e também é ferramenta de transformação”, diz Jane, que utiliza materiais recicláveis e técnicas mistas de cerâmica e vidro em suas obras.

Outro exemplo é Josefa Marques Mazarão, mestra tecelã que vive em Caarapó. Após anos como cozinheira e funcionária de cooperativa, ela descobriu o tear aos 60 anos e nunca mais parou. Com lã de carneiro tingida com cascas de legumes e ervas nativas, fundou a Associação Vale da Esperança em 2002, e hoje ensina outras mulheres a transformar fios em esperança. “A lã é meu fio com a vida”, resume Josefa, cuja arte já percorreu feiras em todo o país.

Na Aldeia Cachoeirinha, em Miranda, o conhecimento ancestral da cerâmica Terena é preservado por Rosenir Batista, que há mais de 49 anos produz peças com técnicas herdadas da avó. Hoje, suas criações já chegaram ao MASP e são vendidas por marcas como a Tok&Stok. “Modelar o barro é também moldar a memória do nosso povo”, afirma Rosenir, homenageada com a Medalha Conceição dos Bugres.

A força do artesanato sul-mato-grossense também se reflete em números. Em 2024, as ações de incentivo promovidas pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e da Setesc, movimentaram mais de R$ 4 milhões. Apenas uma feira pode gerar vendas superiores a R$ 300 mil, evidenciando o potencial econômico do setor.

Feiras nacionais e internacionais, rodadas de negócios e parcerias com entidades como a Apex-Brasil vêm abrindo novos mercados para os artesãos locais. Em uma das ações recentes, profissionais do Estado participaram de uma feira na Colômbia, com repercussões comerciais em países como China, Emirados Árabes, Peru e diversas nações europeias.

Apesar do crescimento, ainda há desafios. Muitas peças seguem subvalorizadas no mercado interno, sendo vendidas por preços até cinco vezes menores do que os praticados em lojas de design, aeroportos ou galerias de arte. O cenário reforça a importância de políticas públicas voltadas à valorização, formação e comercialização dos produtos artesanais.

Desde 2007, o projeto Artesania/MS atua na profissionalização dos artesãos, com ações de capacitação, apoio a feiras, criação de Casas do Artesão no interior, expedições comerciais, e compra institucional de peças como brindes do governo. A atuação contínua do Estado tem sido fundamental para ampliar o reconhecimento e a renda dos trabalhadores do setor.

Iniciativas inovadoras, como a startup Bruaca, com foco em impacto socioambiental, também vêm conectando artesãos a novos consumidores, promovendo uma cadeia mais justa e sustentável.

Mais do que geração de renda, o artesanato cumpre um papel essencial na preservação da cultura e na inclusão social. Oficinas e projetos de formação têm mudado a realidade de comunidades inteiras, sobretudo entre mulheres, idosos, indígenas e jovens em vulnerabilidade. A troca de saberes entre gerações permite que a memória coletiva continue viva e em transformação.

Com originalidade, autenticidade e conexão profunda com o território, o artesanato sul-mato-grossense é hoje uma das expressões mais potentes da identidade regional. Cada peça conta uma história, e todas juntas ajudam a contar a história de um povo que transforma mãos em arte e cultura em futuro.

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