Autoridades argentinas intensificaram as buscas por uma pintura do século XVIII, o Retrato de uma Senhora, de Giuseppe Vittore Ghislandi, que teria sido saqueada de um colecionador judeu durante a 2ª Guerra Mundial. A obra foi retirada da galeria de Jacques Goudstikker, um negociante de arte judeu holandês, por um oficial nazista fugitivo que se estabeleceu na Argentina após o fim do conflito.
O Ministério Público Federal da Argentina informou que, embora uma operação realizada na terça-feira (26) em Mar del Plata tenha revelado documentos e gravuras de época, a pintura não foi localizada. No entanto, o anúncio de um imóvel à venda na cidade, feito por repórteres do jornal Algemeen Dagblad (AD), mostrou a pintura pendurada em uma sala de estar, levantando suspeitas de que essa possa ser a obra perdida.
O Retrato de uma Senhora, que pertenceu a Jacques Goudstikker, foi roubado pelos nazistas após a invasão da Alemanha na Holanda, em 1940. Goudstikker tinha uma galeria importante em Amsterdã e foi um dos muitos judeus que tiveram suas coleções saqueadas. Aproximadamente 1.100 obras de arte do acervo de Goudstikker foram vendidas ilegalmente a Hermann Goering, um dos principais líderes nazistas.
Após a guerra, o fugitivo nazista Friedrich Kadgien acabou ficando com a pintura. Kadgien, um membro do partido nazista, supervisionava a movimentação de bens confiscados, como moeda e propriedades, antes de fugir para a Argentina. Lá, ele viveu até sua morte em 1978. A obra de Ghislandi foi identificada em registros históricos como parte das posses de Kadgien, e agora está no centro das investigações.
O Retrato de uma Senhora foi visto em imagens de um anúncio imobiliário de uma casa em Mar del Plata, oferecida por US$ 265 mil. Após a publicação da reportagem no Algemeen Dagblad, a pintura foi removida das fotos do imóvel, mas as autoridades argentinas já estavam em alerta. Durante a operação, realizada pela Interpol, a polícia argentina encontrou uma grande tapeçaria no local, mas não a pintura.
A herdeira de Goudstikker, Marei von Saher, de 81 anos, tem buscado a restituição das obras de arte roubadas de sua família desde o fim da guerra. A agência do patrimônio cultural da Holanda identificou a pintura como uma das incontáveis obras saqueadas que precisam ser devolvidas aos herdeiros legítimos.
Amelia Keuning, advogada de von Saher, afirmou que, embora ainda não possam autenticar a pintura sem examiná-la, a provável identificação da obra em Mar del Plata aumentou as chances de recuperá-la. "O objetivo é restaurar a justiça", afirmou.
Friedrich Kadgien, que fugiu da Alemanha nazista para a Argentina, manteve seus negócios e propriedades no país, e suas conexões com o regime de Hitler e a gestão de bens saqueados nunca foram devidamente processadas. O caso do Retrato de uma Senhora é um dos muitos que continuam a ser investigados enquanto a Argentina tenta reconciliar seu passado com o acolhimento de nazistas fugitivos após a 2ª Guerra Mundial.
