
Em outubro deste ano, a chefe da General Motors subiu num palco em Nova York e falou de um futuro onde o carro não só leva você até o trabalho, mas também ajuda com a rotina. Vai ser como um assistente pessoal, só que com rodas.
A ideia é mais ou menos assim: você entra no carro, fala o que quer fazer, e ele entende. Vai sozinho até a oficina, pega a roupa na lavanderia, busca o jantar. Enquanto isso, você aproveita para ver um filme, responder e-mails ou só descansar. O carro faz o resto. Igual nos filmes.
O problema é o seguinte: para o carro saber o que você quer, ele precisa conhecer você.
Isso quer dizer que ele vai guardar informações da sua vida. Vai lembrar o horário que você sai de casa. Vai saber onde você gosta de ir. Vai aprender o que você escuta, o que você vê, onde para e com quem costuma andar.
A empresa quer que esse tipo de carro comece a circular em 2025. Eles vão vir com um sistema de voz que fica de graça por oito anos. Em 2026, a montadora vai colocar o assistente do Google dentro dos carros. O nome é Gemini. Depois disso, a GM quer lançar um sistema só dela.
O carro vai escutar você, vai conversar com você, e também vai dar sugestões. Vai dizer qual caminho pegar. Vai lembrar onde é a farmácia mais próxima. Vai indicar um lugar para comer. Vai dizer coisas como se fosse um amigo. Mas para fazer isso, vai precisar saber muita coisa da sua vida.
E é aí que mora o risco. - Um carro que faz tudo isso não é só um veículo. Ele vira uma máquina que observa. Ele presta atenção em você o tempo todo. E guarda essas informações. Tudo que você faz pode ser registrado.
Um dos diretores da empresa, que já trabalhou na Tesla, disse que os carros vão melhorar com o tempo. Mesmo depois que a pessoa compra, ele continua recebendo atualizações. Ganha novas funções. Fica mais inteligente. Isso parece bom. Mas também significa que o carro nunca para de aprender sobre você.
Outras montadoras, como Volkswagen, BMW, Mercedes e até a Amazon, também estão entrando nessa onda. Todas querem que o carro seja mais do que transporte. Querem que ele seja um tipo de computador que anda.
O problema é que essas empresas também querem guardar os dados. A GM, por exemplo, decidiu não usar mais o Android Auto nem o CarPlay, que são sistemas do Google e da Apple. O motivo? Ela não quer dividir as informações com essas empresas. Quer ficar com os dados para ela.
Infográfico produzido pelo jornal A Crítica mostra os dois lados do carro do futuro: de um lado, a promessa de comodidade; do outro, os riscos da vigilância digital.Porque os dados viraram o novo dinheiro. - Saber o que você faz, onde vai, o que consome, o que procura, é muito valioso para as empresas. Com isso, elas conseguem vender mais, entender o comportamento das pessoas e até prever o que elas vão querer no futuro.
Então, a pergunta que fica é simples: será que vale a pena?
Vale ter um carro que faz tudo isso, mas que também escuta tudo, vê tudo, e registra tudo?
A resposta não é tão simples. Para alguns, isso é o preço da comodidade. Para outros, é invasivo demais. O que importa é entender que esse futuro está chegando. E ele tem cara de novidade, mas também tem cheiro de vigilância.


