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CRÉDITO RURAL

Sobra dinheiro, falta acesso: os entraves do crédito rural para pequenos produtores

Na prática, muitos agricultores não conseguem pegar o crédito do Pronaf mesmo com dinheiro disponível nos bancos

7 julho 2025 - 18h00Da Redação
Alessandro Coelho explica por que muitos produtores rurais não conseguem acessar o crédito do Pronaf
Alessandro Coelho explica por que muitos produtores rurais não conseguem acessar o crédito do Pronaf - (Foto: Lorena Sone)

Apesar do governo anunciar bilhões para a agricultura familiar, a realidade de quem vive no campo é bem diferente. Muitos produtores rurais não conseguem pegar o crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) por causa da burocracia. O problema foi abordado com clareza pelo vice-presidente da Acrissul, Alessandro Coelho, durante entrevista ao programa Giro Estadual de Notícias desta segunda-feira (07), transmitido pelas emissoras do Grupo Feitosa e redes sociais do jornal A Crítica.

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Com uma fala direta, Alessandro explicou que o crédito até existe, mas que o acesso a ele é muito difícil. "Todo ano sobra dinheiro dentro do Pronaf. Por quê? Porque é muito difícil as pessoas acessarem esse crédito", afirmou. Segundo ele, pequenos detalhes como uma conta de luz atrasada ou um carnê vencido já impedem o produtor de conseguir o financiamento.

Na prática, o crédito do Pronaf não chega ao campo por causa da burocracia. Alessandro Coelho explica por que ainda sobra dinheiro nos bancos.

O crédito existe, mas o caminho é complicado - Durante a entrevista, Alessandro destacou que o problema é mais comum do que se imagina. Muitos agricultores, especialmente os que vivem em assentamentos ou áreas rurais sem documentação regularizada, não conseguem apresentar todos os papéis exigidos pelos bancos. E mesmo quando conseguem, o processo é demorado. "A burocracia é muito grande", resume.

Outro ponto citado é que o Pronaf tem linhas de crédito para quem está começando, com valores pequenos, mas que nem sempre estão disponíveis em todos os bancos. "Somente o Banco do Brasil opera essas linhas. A Caixa Econômica, por exemplo, não tem", explicou.

Medo de dever também afasta os produtores - Alessandro apontou ainda que muitos pequenos produtores têm medo de tomar crédito, especialmente quando já enfrentaram problemas com dívidas no passado. "Às vezes é uma conta atrasada que deixa o nome sujo, e aí ele já não consegue pegar o financiamento", contou.

Essa insegurança faz com que muitos produtores evitem buscar o Pronaf, mesmo tendo direito. "A maioria trabalha devagar, com medo de errar. E quando erra, pode perder tudo", disse. Para ele, o acesso ao crédito precisa ser mais simples, com menos burocracia e mais apoio para orientar o produtor.

"Pronaf tem dinheiro, mas pequeno produtor não consegue pegar"

Falta assistência técnica e orientação no campo - Outro desafio apontado por Alessandro é a falta de orientação técnica para quem quer começar a produzir leite ou investir na propriedade. Segundo ele, muitos produtores cometem erros logo no início por falta de planejamento. Um exemplo citado é o caso de quem compra vacas de leite sem antes preparar o pasto.

"Se você compra uma vaca de leite de alta produção e não tem comida para ela, ela não vai produzir. A culpa não é da vaca, é do manejo errado", explicou. Para evitar isso, ele defende que os produtores busquem orientação antes de pegar crédito, com apoio de entidades como o Senar e o Sebrae.

Linha específica para leite pouco usada - Alessandro também falou de uma linha de crédito específica para o setor leiteiro, com R$ 300 milhões disponíveis, mas que é pouco utilizada. O motivo? Os produtores não sabem ou têm dificuldade em acessar. "É uma linha boa, mas o produtor de leite, por perfil, tem medo de crédito. Ele é pequeno, qualquer erro custa caro", reforçou.

Para mudar esse cenário, ele defende que a assistência técnica seja prioridade e que as informações sobre as linhas de crédito cheguem de forma clara aos agricultores.

Alessandro apontou ainda que muitos pequenos produtores têm medo de tomar crédito, especialmente quando já enfrentaram problemas com dívidas no passado

Começar certo para não desistir depois - Um alerta importante deixado por Alessandro é para quem pretende iniciar uma atividade no campo. Segundo ele, é comum ver pessoas que herdam um sítio ou compram um pequeno pedaço de terra e, sem conhecimento, resolvem comprar vacas e começar uma produção de leite. "O problema é que elas começam do fim: compram a vaca, mas não têm capim, não têm estrutura. A vaca emagrece, o bezerro morre e em três anos a pessoa desiste do negócio", relatou.

Para ele, é essencial seguir um passo de cada vez: primeiro preparar a pastagem, depois estruturar a propriedade, e só então investir em animais. "Se fizer isso certo, o crédito vai ajudar. Senão, vira dor de cabeça."

Bancos também dificultam - Além da burocracia do governo, Alessandro lembrou que muitos bancos não estão preparados para atender bem os pequenos produtores. Falta conhecimento sobre o Pronaf entre os funcionários, e as instituições preferem operar com valores maiores, mais lucrativos. Isso faz com que o pequeno produtor fique à margem do sistema, mesmo quando tem direito ao crédito.

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