
O Pantanal ardeu mais uma vez. Entre junho e agosto de 2024, os incêndios que devastaram mais de 500 propriedades rurais no bioma deixaram uma paisagem marcada por cercas caídas, pastos carbonizados e vegetação nativa reduzida a cinzas. Em uma região que depende da pecuária e da produção sustentável para sobreviver, o fogo foi uma ferida profunda. Mas, dessa vez, a resposta veio rápida. Ontem (16 de setembro), o Sistema Famasul, em parceria com o Senar/MS, lançou a SuperAção Pantanal, uma força-tarefa inédita para ajudar os produtores rurais a se reerguerem. O objetivo é ambicioso: recuperar o que foi destruído e garantir que os prejuízos não se perpetuem.

Liderados pelo presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, o programa mobiliza cerca de 20 técnicos para visitar as fazendas afetadas e oferecer assistência técnica presencial. Para os pantaneiros, não se trata apenas de reconstruir cercas ou replantar pastos. É uma questão de sobrevivência, tanto econômica quanto ambiental. “Nossa intenção é orientar os produtores sobre como minimizar o impacto dos incêndios e da produção, de curto, médio e longo prazo. Isso reflete na nossa economia, dada a importância que o Pantanal tem para o desenvolvimento do Estado”, explicou Bertoni, durante o anúncio da iniciativa.
Marcelo Bertoni, presidente do Sistema Famasul.
A força-tarefa que traz esperança - O Pantanal, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo, tem convivido com o fogo há décadas. O clima seco e a vegetação alta formam uma combinação explosiva durante o período de estiagem. Para os produtores rurais, no entanto, os incêndios não são apenas uma tragédia ambiental – são uma ameaça direta à sua subsistência. Pastos são destruídos, animais ficam sem alimento e a capacidade produtiva é gravemente afetada.
É aí que entra a SuperAção Pantanal. A missão dos técnicos não é apenas diagnosticar os danos, mas também oferecer soluções práticas. No campo, o técnico Daniel Comiran Dallasta já está em ação em Aquidauana, onde encontrou propriedades com pastos e cercas totalmente destruídos. Nos próximos 60 dias, ele e outros especialistas vão mapear as fazendas, orientar os produtores e propor as melhores alternativas para a recuperação.
O papel do Senar/MS vai além de dar respostas rápidas. Eles estão ensinando a combater o problema na raiz. A assistência técnica inclui a criação de brigadas de combate a incêndios e treinamentos específicos. A ideia é que os próprios produtores estejam preparados para enfrentar novos incêndios no futuro. Isso se conecta ao Viva Pantanal, um programa de longo prazo que busca promover práticas sustentáveis e evitar que o bioma se transforme em uma zona de desastre contínuo.
Um respiro econômico - A Famasul, por sua vez, foi além da organização da força-tarefa. Conseguiu, na semana passada, um importante apoio financeiro ao aprovar uma linha de crédito diferenciada pelo FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste). O objetivo é dar aos produtores do Pantanal acesso a recursos que permitam não só a recuperação das áreas afetadas, mas também o recomeço econômico. Esse financiamento cobre desde a recuperação de pastagens até a recomposição de cercas e a compra de insumos.
O secretário de Meio Ambiente, Jaime Verruck, da Semadesc, ressaltou a importância do crédito, especialmente para a pecuária, que é um dos principais motores econômicos da região, focada na produção de bezerros. “Esse recurso é fundamental para que os produtores rurais possam recompor suas propriedades, além de assegurar a retenção de matrizes, beneficiando diretamente a economia local”, afirmou Verruck.
O desafio de curar o Pantanal - As imagens das fazendas devastadas pelo fogo são um lembrete do quanto a natureza pode ser ao mesmo tempo bela e implacável. Mas a SuperAção Pantanal não se contenta com o lamento. Em vez disso, se propõe a reerguer a produção local, equilibrando a recuperação econômica com a preservação ambiental. Afinal, o Pantanal não é só um pulmão verde – ele é o coração de muitas famílias que dependem diretamente do campo para viver.
Os esforços da Famasul e do Senar/MS são mais do que uma resposta emergencial. Eles são um sinal de que, em tempos de crise, a união entre tecnologia, conhecimento e financiamento pode ser a chave para enfrentar as consequências das mudanças climáticas e da degradação ambiental. O Pantanal se recupera, mas o caminho é longo. Cercas vão ser reconstruídas, pastos replantados, e com o apoio técnico e financeiro certo, os produtores terão uma chance de restaurar o equilíbrio entre a produção e a preservação.
Enquanto isso, os técnicos seguem em campo, tentando evitar que as chamas de hoje se tornem uma ameaça perene para o futuro. Na terra onde o fogo mostrou sua face mais destrutiva, a força-tarefa da SuperAção Pantanal tenta reacender a esperança, uma fazenda de cada vez.
