
Na manhã desta sexta-feira (15), numa cabine de vidro montada no centro do parque de exposições Laucídio Coelho, em Campo Grande, o presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai, sentou-se diante dos microfones do Grupo Feitosa de Comunicação para uma entrevista ao vivo que alcançou ouvintes de todo o Mato Grosso do Sul, por rádio e plataformas digitais. O tom foi direto, as críticas claras, e os recados, bem dados.

“O impacto do tarifaço dos Estados Unidos foi usado como desculpa pela indústria frigorífica para derrubar o preço da arroba. E quem pagou a conta foi o produtor rural”, afirmou Bumlai, sem rodeios.
Ele se referia à queda repentina no valor pago aos pecuaristas após o anúncio da sobretaxa americana sobre a carne brasileira. “Baixaram a arroba de R$ 320 para R$ 290 da noite pro dia. Não houve razão técnica. Foi puro oportunismo.”
Para quem imaginava um colapso nas exportações, Bumlai tratou de tranquilizar. “Exportamos apenas 2% da nossa carne para os Estados Unidos. Essa quantidade já está sendo redirecionada para mercados como México e Chile.” Mas foi o Japão quem ocupou o centro do discurso.
“Estamos em conversas avançadas. Acreditamos que, nos próximos meses, a carne brasileira começa a ser exportada ao Japão. É um novo mercado estratégico e promissor”, disse o presidente da entidade ruralista, com convicção.

A entrevista, acompanhada por milhares de ouvintes e internautas em tempo real, foi também uma oportunidade para Bumlai criticar o plano anunciado pelo governo federal na última quarta-feira, que prevê apoio financeiro às exportadoras afetadas pelo tarifaço. “Quem merecia ajuda era o produtor rural. Mais uma vez, o recurso vai parar na mão das indústrias”, afirmou.
Ele apontou o lucro bilionário da JBS no segundo trimestre como sinal de que o setor frigorífico não está em crise. “R$ 530 milhões de lucro, 60% a mais que no mesmo período do ano passado. E o produtor? Esse continua sem previsibilidade.”
Segundo ele, essa é a maior fragilidade do setor: a imprevisibilidade. “Você começa a produzir um bezerro hoje, que vai virar carne daqui a três anos. E não sabe quanto vai receber. Isso é insustentável. A gente precisa mudar isso.”
Sobre o movimento recente de valorização da arroba, Bumlai foi cauteloso. Disse que, por causa da redução no número de animais prontos para abate e das geadas que atingiram as pastagens, os preços podem subir. “Acredito que R$ 350 seja possível nos próximos meses. Falar em R$ 400 ainda é prematuro.”

Bumlai também elogiou a missão internacional do governo do estado, que encerra hoje sua visita ao continente asiático. “É importante que o mundo conheça o potencial do Mato Grosso do Sul. O ideal é que, no futuro, os compradores peçam a nossa carne pelo nome: carne do Mato Grosso do Sul, não só carne do Brasil.”
Encerrando a entrevista, ele anunciou que a organização da Expogrande 2026 já está em andamento, com pré-vendas previstas ainda para este mês. Antes disso, entre os dias 19 e 21 de setembro, o parque de exposições receberá o Festival da Carne em conjunto com a Expo Equestre. E em novembro, a segunda edição da Expo Genética, com rodeios, genética animal e atrações para o público urbano.
“A Expogrande já está entre as cinco maiores feiras do Brasil. Nosso desafio é seguir crescendo, com qualidade e inovação”, resumiu Bumlai, já projetando os próximos passos.
Confira como foi a entrevista:
