Nos últimos dias, uma notícia causou preocupação entre produtores de soja no Brasil. A informação que circulou era de que a Danone, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, iria parar de comprar soja brasileira e passaria a comprar de países asiáticos. O motivo, segundo os rumores, seria a tentativa de antecipar novas regras da União Europeia, que querem garantir que os produtos vendidos na Europa não venham de áreas desmatadas. Será que essa história é verdade?
Nesta terça-feira (29 de outubro), a Danone Brasil respondeu oficialmente e negou a informação. Em uma nota assinada pelo presidente da empresa no Brasil, Tiago Santos, e por Camilo Wittica, vice-presidente de Assuntos Jurídicos e Corporativos, a Danone afirmou que “a informação veiculada não procede” — em outras palavras, o rumor não é verdadeiro. A empresa afirmou que continua comprando soja brasileira de acordo com as regras nacionais e internacionais.
A resposta da Danone veio depois de um pedido de esclarecimento da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), que representa os produtores de gado do estado. A Acrissul estava preocupada com o impacto que a saída da Danone teria na imagem do agronegócio brasileiro. Em tempos de atenção mundial sobre o desmatamento na Amazônia, qualquer notícia de que grandes empresas estão deixando o Brasil causa medo no setor agrícola.
O que a União Europeia quer? A preocupação com o futuro da soja brasileira aumentou após a criação de uma nova regra pela União Europeia, chamada de Regulamento de Desmatamento. A ideia é simples: a partir de dezembro, empresas que vendem produtos como soja, cacau e café para a Europa terão que provar que esses produtos não vêm de áreas desmatadas. Isso pode ser um desafio para exportadores brasileiros, já que o país enfrenta problemas com o desmatamento da Amazônia e outras regiões.
Para empresas como a Danone, a nova regra exige que cada passo da produção seja verificado — desde a origem da soja até a chegada do produto final. Essa verificação, conhecida como “rastreabilidade”, é cara e exige muito trabalho. Mas a Danone afirmou que já tem um sistema de controle que atende aos requisitos de rastreabilidade. Segundo a empresa, a soja que compra vem de áreas que seguem as regras ambientais e é comprada por meio de uma Central de Compras própria, que faz essa checagem.
Para que a Danone usa a soja? Muita gente pode não saber, mas a soja é um ingrediente importante na alimentação do gado leiteiro, principalmente onde não há muito pasto. No Brasil, a Danone diz que a soja representa apenas 5% da dieta das vacas leiteiras, que são alimentadas principalmente com capim e grãos. Essa informação está no relatório ambiental da empresa de 2023. Assim, embora a soja seja importante, ela não é o principal alimento dos animais que produzem o leite usado pela Danone.
A Danone está no Brasil há mais de 50 anos e investe bastante em projetos para apoiar práticas de cultivo sustentável. A empresa oferece apoio tanto para pequenos como para grandes produtores e incentiva iniciativas de preservação ambiental para manter uma cadeia de produção mais “verde”.
O impacto de notícias falsas para o agronegócio - Guilherme Bumlai, presidente da Acrissul, ficou preocupado com o impacto que a notícia falsa poderia ter na imagem dos produtores brasileiros. “Uma notícia dessas, ainda mais em tempos de redes sociais, pode prejudicar a imagem de um país inteiro e diminuir a confiança em nossos produtos”, disse Bumlai.
Guilherme Bumlai, presidente da Acrissul.
Ele lembra que o Brasil tem leis rígidas para proteger o meio ambiente e que muitos produtores seguem essas regras para garantir uma produção sustentável. “A questão da rastreabilidade é um desafio, mas isso não significa que todos os produtores estão ligados ao desmatamento ilegal”, afirmou Bumlai, explicando que a maioria dos produtores age de forma responsável.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) também se manifestou sobre o caso, condenando as especulações e reafirmando o compromisso do Brasil com a produção sustentável. O MAPA ressaltou que o Brasil tem uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo e que o governo trabalha para garantir que os produtos brasileiros sigam as normas ambientais.
O que significa para o consumidor? Para o consumidor, a mensagem é que a Danone não tem planos de parar de comprar soja do Brasil e, até agora, não há sinais de boicote. A empresa reforça que mantém altos padrões de sustentabilidade e seguirá comprando de fornecedores locais que respeitam o meio ambiente.
Para o Brasil, o desafio é mostrar que consegue atender às novas exigências ambientais do mercado internacional, especialmente da União Europeia. Empresas como a Danone ajudam a manter o mercado e incentivar boas práticas, mas o setor agrícola do Brasil sabe que precisará se adaptar para continuar competitivo no exterior.
No final, a concorrência global no agronegócio não é feita só de produtividade. Cada vez mais, é preciso mostrar responsabilidade ambiental e transparência.
