Por muito tempo, falar em carne de qualidade era falar em Angus. Esse gado ganhou fama no Brasil e no mundo como sinônimo de cortes macios e cheios de sabor. Mas, em Mato Grosso do Sul, um movimento silencioso vem mudando essa ideia. O nelore, aquele boi branco que domina os pastos brasileiros, começa a mostrar que também pode oferecer carne premium.
Isso só foi possível graças a um grupo de criadores que, há mais de dez anos, fundou a Confraria da Carcaça Nelore. O objetivo é claro: provar que o nelore pode produzir carne macia, bem marmorizada (com gordura entre as fibras) e de alta qualidade, pronta para disputar espaço nas mesas mais exigentes.
Para isso, os criadores usam tecnologia. Com exames de ultrassom, conseguem medir no animal vivo o tamanho do contrafilé, a quantidade de gordura e até a qualidade da picanha. Essas informações ajudam a escolher os melhores reprodutores e acelerar o ganho de qualidade nos rebanhos.
A grande vitrine desse trabalho é a Prova de Eficiência Alimentar, realizada em parceria com pesquisadores da UNESP. Na edição mais recente, quase 10 mil bois foram avaliados. Só 109 passaram para a fase final. Depois de muitos testes, 12 touros foram escolhidos para multiplicar sua genética pelo país.
Na Prova de Eficiência Alimentar da Concarne, em Botucatu (SP), touros Nelore são avaliados em características de carcaça e desempenho. - (Foto: Divulgação)O destaque foi Fator 7 Estrelas, um touro de Terenos (MS). Ele foi o campeão nacional e agora terá seu sêmen distribuído para outros criadores. Para os pecuaristas, isso significa que a qualidade vai se espalhar rapidamente.
Na fazenda Sete Estrelas, o diretor Juliano Beraldo de Andrade resume a filosofia da seleção: pensar sempre na carne que chega ao gancho, pronta para consumo. Já Naur Barbosa Jr, diretor de marketing, explica o segredo: “A ultrassonografia mostrou que o nelore pode melhorar rápido. Em poucas gerações já vemos avanços grandes”.
Naur Barbosa Jr. e Juliano Beraldo de Andrade, da Fazenda Sete Estrelas, em Terenos (MS), à frente do trabalho de seleção genética. - (Foto: Divulgação)O que está em jogo não é só genética, mas também uma mudança de percepção. O nelore, que sempre foi visto apenas como gado de pasto, começa a ganhar status gastronômico. E, se depender dos resultados, pode surpreender até os paladares mais exigentes.
