
Saiba Mais
No distrito de Anhanduí, em Campo Grande (MS), um grupo de quatro estudantes do Ensino Médio está fazendo uma pequena revolução. Entre as ferramentas de trabalho não estão só enxadas e regadores, mas também caixas de abelhas sem ferrão, sensores de umidade e circuitos de LED. Em vez de apenas aprender ciência nos livros, eles estão aplicando o conhecimento diretamente na terra, em um projeto que une agroecologia e tecnologia para melhorar a agricultura familiar.

Com o apoio da Fundect, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, o grupo vem testando uma forma alternativa de cultivo conhecida como "horta mandala". Ao dispor as plantas em círculos concêntricos e utilizar tecnologias simples, mas inovadoras, como sensores de irrigação automatizados, os estudantes não só aprenderam sobre sustentabilidade, mas também estão ajudando a transformar a relação entre a comunidade e o campo.
Alunos de Anhanduí apresentam o projeto da horta mandala em feira científica, mostrando como tecnologia e agroecologia podem transformar a agricultura familiar
Quando a ciência brota da terra - O projeto faz parte do Pictec, Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do Estado, que apoia estudantes no desenvolvimento de pesquisas aplicadas. A ideia das hortas mandalas, com sua disposição circular, não é nova, mas os alunos, sob a orientação da professora Caroline Silveiro Mossi, trouxeram um toque de inovação: eles instalaram sensores movidos por Arduino que monitoram a umidade do solo e avisam, por meio de LEDs, quando é hora de regar as plantas. "Quando o LED acendeu pela primeira vez, foi uma sensação de conquista", conta o estudante Thiago Andrade. “Aquele brilho no pequeno diodo foi como ver nossas ideias tomando forma.”
O cultivo na mandala é pensado para ser sustentável e respeitar os ciclos naturais. As plantas são escolhidas de modo que uma ajude a outra: umas atraem polinizadores, outras repelem pragas. Para ajudar nesse processo, os alunos trouxeram uma pequena colmeia de abelhas jataí, uma espécie nativa sem ferrão, para garantir que a polinização aconteça de maneira eficiente. "Eu nem sabia que existiam abelhas sem ferrão", diz Michele Nascimento, outra aluna do projeto. “Agora elas fazem parte do nosso ecossistema.”
Tecnologia no campo e além das redes sociais - Enquanto muitos adolescentes estão mais familiarizados com a tecnologia por meio das redes sociais, para esses jovens de Anhanduí, a tecnologia ganhou outro significado. O uso da plataforma Arduino, uma ferramenta de código aberto que permite a construção de sistemas automatizados, trouxe uma visão prática do que a tecnologia pode fazer pelo campo. Os sensores instalados na horta permitem que o grupo controle o consumo de água e energia, ajustando a irrigação conforme a necessidade do solo.
Samara Silva, uma das bolsistas, reflete sobre a importância do projeto para sua compreensão de ciência: "Antes, eu pensava que tecnologia era só o celular ou o computador. Agora, vejo que ela está em tudo ao nosso redor, até no jeito de cuidar da nossa horta."
Estudante ajusta o sistema de irrigação inteligente criado com Arduino, que monitora a umidade do solo e otimiza o uso de água na horta mandala
Abelhas, hortaliças e polinização: a natureza como aliada - Além das inovações tecnológicas, o projeto também abraçou práticas agroecológicas. As hortas mandalas foram projetadas para se integrar à biodiversidade local. A instalação das caixas de abelhas sem ferrão no centro da mandala foi um marco importante. A espécie jataí, conhecida por seu comportamento pacífico, contribui diretamente para a polinização das hortaliças, enquanto outras espécies de abelhas, como as mamangavas, foram inseridas para aumentar ainda mais o alcance da polinização. Essas práticas são essenciais para manter a produtividade sem o uso de produtos químicos.
Ciência que se compartilha - O impacto do projeto vai além dos limites da escola. A produção da horta já está sendo distribuída na própria comunidade e nas escolas locais, mostrando que a ciência aplicada pode melhorar a qualidade de vida da população. A iniciativa também incentivou os alunos a olhar para o futuro com novas perspectivas: todos eles se preparam para apresentar os resultados na FETECMS, a maior feira científica do Centro-Oeste, que acontece em Campo Grande.
Para Ariel Pereira, a feira será uma oportunidade única de compartilhar o que aprendeu. “Vai ser a primeira vez que participo de um evento assim. Quero mostrar como conseguimos combinar o saber tradicional do campo com a tecnologia para criar algo que realmente faz a diferença.”
Estudantes em campo: orientados por técnicos, eles implementam práticas agroecológicas como a inserção de plantas repelentes e abelhas sem ferrão na horta mandala
O futuro da agricultura pode estar no passado - O projeto dos estudantes de Anhanduí, ao unir práticas agroecológicas e tecnologias simples, é um exemplo de como o futuro da agricultura pode estar em soluções tradicionais, combinadas com inovação. A horta mandala, com seu design circular e respeito pelos ciclos da natureza, mostra que é possível produzir de maneira eficiente sem sacrificar o meio ambiente. E, em um mundo onde o uso da tecnologia parece cada vez mais distante do cotidiano rural, esses jovens estão provando que o campo pode ser o lugar ideal para testar novas ideias.
Como destaca a professora Caroline, "esse projeto dá aos alunos a chance de serem protagonistas, de enxergarem o impacto que a ciência e a tecnologia podem ter na vida real. Eles não estão apenas aprendendo, estão fazendo a diferença."
