Todos nós sabemos que o mundo será outro após a pandemia do vírus COVID 19, isso é ideia comum, já discutimos isso em outras oportunidades, seus efeitos irão modificar para sempre a vida de todos que vivem em sociedade, muitos costumes serão mudados, haverá alteração para sempre de algumas rotinas pessoais. Todas as áreas serão afetadas, mas o ensino nunca mais será o mesmo após a pandemia.
Haverá mudanças profundas na relação ensino–aprendizagem em nosso País e isso vai afetar sobremaneira a educação no Brasil. Durante o período da pandemia foi necessário manter, ainda que de forma remota com muitas adaptações, aulas e as atividades escolares, e isso ocorreu especialmente no ensino superior.
Eu mesmo durante um ano ministrei aulas e atividades como avaliações “on line”. Confesso que não foi uma experiência muito gratificante, pois tudo foi desenvolvido com a ajuda de aplicativos, e confesso ainda que o resultado não foi o esperado. Mas o que se viu foi uma aceitação do método por grande parte da sociedade, ainda que antes já caminhava a passos largos o chamado ensino à distância, conhecido como EAD, o que se viu nesse período foi a massificação dos métodos de ensino remoto, o que preocupa os educadores, eu inclusive.
Nada substitui as aulas presenciais e o contato direito do educador com seus alunos, mas é claro que também não é possível negar a evolução dos métodos educacionais, e o equilíbrio nessa relação vai resultar na qualidade do novo profissional, que deverá ser inserido na sociedade. Isso deve ser a preocupação de todos, pois profissionais de qualidade é que serão base da mão de obra produtiva do Brasil.
Li com baste preocupação a notícia de que O Ministério da Educação autorizou a criação do curso de graduação em Direito de maneira 100% remota na Faculdade CERS, cuja sede fica no Recife. A aprovação se deu após análise feita durante os dias 19 e 20 de julho. Criada em 2016, a Faculdade CERS conta com mais de 13 mil alunos com matrículas ativas nos seus 21 cursos de pós-graduação em Direito. O grupo vem se preparando também para iniciar o mestrado em Direito 100% a distância.
Ainda que inúmeras atividades das mais variadas profissões passaram pela experiência de exercício profissional remoto, sendo que algumas não devem retornar de forma presencial, a educação deve ter muito cuidado com a questão do ensino à distância.
Essa preocupação deve ser uma constante, pois um país como o nosso, em que a educação de base e a superior (salvo raras exceções), não é equivalente à dos países desenvolvidos, o distanciamento do educador do educando pode ser prejudicial.
E isso não quer dizer que devemos ter aversão ao ensino à distância, porém deve ser limitado e restrito a casos específicos, pois a falta de contato com o educador pode comprometer a troca de experiências bem como dificultar para o discente a preparação para a vida profissional
No ensino superior, que essa ausência de contato próximo também pode limitar a troca de experiencia profissional dos educadores para com os acadêmicos, e comprometer o debate sobre casos que surgem no decorrer das atividades. A falta de boas práticas para as aulas on line é mais um dos problemas do EAD. A má comunicação entre os alunos e os instrutores compromete o desenvolvimento de todos, assim as chances de fracasso aumentam.
No caso também o professor poderá ser o elemento provocador da desistência do aluno, devido às dificuldades de comunicação, falta de estímulo, demora no feedback e a pouca participação nas ferramentas interativas de aprendizagem. Também no EAD comunicação entre professor e aluno se dá quase que exclusivamente por meio da internet, por isso, é necessário ter uma preparação cuidadosa do discente, pois muitos não tem a facilidade de trabalhar a sala de aula on line.
De outro vértice, se o aluno não estiver preparado para estudar on line, os resultados podem não ser os esperados. O aluno precisa ser conquistado para executar todas as atividades a ele determinadas, e antes de iniciar o estudo dos no curso, é necessário que o professor coordene a ambientação dos alunos e inicie a “socialização”. É preciso que o aluno se interesse e queira explorar as ferramentas e recursos disponíveis. E isso não é fácil em um curso como o de Direito, pois há pouca prática no início e uma intensa carga teórica.
Em muitos casos os cursos EAD tornam-se desinteressantes para o estudante, devido à dificuldade de encontrar informações procuradas no ambiente do curso, causadas pela falta de compreensão de conteúdo da estrutura do ambiente, bem como o sistema de avaliações inadequados que também podem se tornar obstáculos para o aluno.
É muito importante que a sociedade se prepare para pós-pandemia no setor educacional superior, pois a formação de bons profissionais dão sustentáculo para uma sociedade competitiva e com garantia de qualidade dos seus profissionais. O debate precisa ser amplo e com a participação governamental, pois o Ministério da Educação e Cultura – MEC, precisa estar atento para que as mudanças não causem mais problemas do que benefícios, e principalmente se preocupar com a qualidade da educação superior no nosso País, que nos últimos vinte anos não teve muito progresso na qualidade dos cursos superiores, pois todos temos que estar preparados para as mudanças da vida em sociedade, pois que sobrevive não é o mais forte e sim aquele que mais se adapta as mudanças, porém toda mudança tem que ser para melhor e nunca para o pior.
Bento Adriano Monteiro Duailibi
Advogado, Professor Universitário,
Pós Graduado em Direito Civil e Metodologia do Ensino Superior,
Membro da Academia Maçônica de Letras de MS.