O uso da palavra, característica diferencial do ser humano, passa por constantes transformações no tempo e no espaço, sejam elas dadas pelo próprio léxico (critério oficial de um determinado idioma) ou pelo uso popular, e variam de acordo com a região, o clima, os dialetos e as gírias, e assim por diante.
A língua utilizada pelo ser humano não transmite apenas suas ideias, mas também um conjunto de informações sobre si mesmo. Certas palavras e construções denunciam o contexto social, ou seja, o nível socioeconômico e escolar, a formação, os valores e o círculo de amizades de uma pessoa. O uso da língua também pode informar traços do nosso comportamento, como a timidez, a insegurança e a capacidade de nos adaptarmos a situações novas etc.
O registro coloquial, ou podemos dizer, popular, caracteriza-se por não ter planejamento prévio; são construções gramaticais livres, com repetições frequentes, frases curtas e conectores simples. O registro informal caracteriza-se pelo uso de uma ortografia simplificada e de construções menos elaboradas. É o caso, por exemplo, do uso corrente da expressão “a gente”, em vez de “nós”.
Já a norma culta da língua portuguesa refere-se ao conjunto de regras gramaticais e de uso considerados padrão, utilizados em contextos formais como produções acadêmicas, documentos oficiais e comunicação profissional. Ela se caracteriza pelo rigor gramatical, vocabulário adequado, pronúncia padronizada (na fala) e uma estrutura de texto coesa e coerente, evitando gírias e regionalismos. O uso da norma culta é crucial para a clareza da comunicação e é fundamental em exames como o Enem.
As características da norma culta são: a busca por uma pronúncia padronizada e sem marcas de sotaque regional muito acentuadas, embora a ênfase seja maior na norma escrita; um estilo de comunicação formal, apropriado para situações que exigem seriedade e precisão, nas quais a estrutura da frase é mais elaborada com a coesão textual valorizada para garantir a clareza da mensagem.
A meu ver, a norma culta deveria ser praticada fluentemente em todas as manifestações da comunicação humana, porque ao praticá-la não estamos apenas cumprindo um exercício de ordem gramatical e semântico, estamos exercitando a nossa presença em cada ato, fator fundamental para nossa evolução mental e espiritual, pois estaremos saindo do modo automático.
Em suma, a norma culta é regida pela gramática tradicional, aquela ensinada nas escolas, onde aprendemos o que são as classes gramaticais, quais são as maneiras corretas de ortografia de uma palavra e como utilizar os conectivos de maneira fluida.
Além da norma culta, temos também a norma padrão (ou norma gramatical) que é o modelo idealizado e abstrato da língua. Desse modo, ela é a base das gramáticas tradicionais, que visam unificar e padronizar a escrita para todo um país. A norma padrão é um modelo prescritivo (diz como a língua deve ser usada) e geralmente tem base histórica na tradição literária. É a norma ensinada nas escolas. A norma padrão é um conjunto de regras gramaticais que orienta o uso da língua em sua forma mais valorizada socialmente.
Além disso, temos também as diversas formas naturais que existem de se falar um idioma de acordo com diversos fatores (como a região geográfica, o período histórico, a faixa etária, o nível de escolaridade, a situação de uso etc.). A linguagem informal é uma das manifestações da variação linguística, tal qual a linguagem culta. A comunicação informal apresenta mais liberdade para fugir das normas gramaticais, em prol de uma comunicação mais ágil. Em muitos casos, ela pode ser uma linguagem mais afetuosa e que aproxima as pessoas. A linguagem informal também acolhe os menos privilegiados, enquanto a norma culta segrega, intimida, e é frequentemente usada como símbolo de poder.
Como vemos, todo assunto sempre tem dois lados, e assim seguimos nos aprofundando nas maravilhas da nossa língua. Em breve, voltaremos a ela.
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.
