Que o mundo será outro após a pandemia que veio com o vírus COVID 19, acredito que toda a sociedade não tem dúvida, o vírus que surgiu no continente asiático deixou um rastro de destruição muito grande, um número de mortos em todos os continentes, que nunca será precisamente conhecido. Porém hoje com a tecnologia e o avanço da ciência, com pesquisadores e grandes laboratórios dedicados a estudos e fabricação farmacêutica, logo haverá um imunizante bastante eficaz contra a doença viral que surgiu nos últimos dois anos e avançou demais, é o que esperamos ansiosamente.
Porém seus efeitos irão modificar para sempre a vida de todos que vivem em sociedade, muitos costumes serão mudados, muitos irão alterar para sempre as suas rotinas, e até muitas mudanças não serão tão percebidas. Mas alguns setores, estes nunca mais serão os mesmos, isso porque ante à situação de isolamento, que foi uma medida necessária, foram desafiados a manter e reinventar “o funcionamento”.
O ensino, por exemplo, nunca mais será o mesmo após a pandemia, creio que mudanças profundas na relação ensino–aprendizagem ocorrerão e isso vai afetar sobremaneira a educação no Brasil. Veja que para manter o funcionamento foi necessário adaptar algumas aulas e as atividades escolares, e isso ocorreu não apenas no ensino fundamental e médio, também no ensino superior. As aulas e atividades como avaliações “on line” passaram a ser desenvolvidas com a ajuda de aplicativos, e ainda que o resultado não foi o esperado, o que se viu foi uma aceitação do método por grande parte da sociedade, ainda que antes já caminhava a passos largos o chamado ensino à distância, o que se viu nesse período foi a massificação dos métodos de ensino remoto, o que preocupa todos os educadores.
E essa preocupação é louvável, pois um país como o Brasil em que a educação de base e a superior (salvo raras exceções), não é equivalente à dos países desenvolvidos, o distanciamento do educador do educando pode ser prejudicial. Não que deva ser combatido o ensino à distância, porém deve ser limitado e restrito a casos específicos, pois a falta de contato com o educador pode minar a troca de experiências bem como dificultar para a criança e para o adolescente a preparação para a vida em sociedade, deixando muito restrito o seu leque de convivência, limitando-os a conhecer as diferenças entre pessoas e classes sociais e isso é muito perigoso, ainda que a educação à distância tenha comodidade e facilidade, a ausência de contato humano, é um convite para inúmeros problemas. Assim como também no ensino superior, que essa ausência de contato também pode limitar a troca de experiencia profissional dos professores para com os acadêmicos, a salutar discussão de casos (estudo de caso) que surgem no decorrer das aulas pode acabar por não existir, e por consequência limitação do futuro profissional.
Outro setor que será (e está sendo) bastante afetado é o judiciário, com a pandemia os profissionais do direito (operadores do direito), sofreram e continuam a sofrer demais, pois a impossibilidade de ter o contato pessoal prejudica sobremaneira; e aqui ressalto que a advocacia é a que mais está sofrendo, está atravessando verdadeiros martírios para atender aqueles que buscam a tutela do Poder Judiciário. O advogado na defesa dos interesses dos seus clientes tem sofrido muito, pois as chamadas audiências e julgamentos virtuais não são condizentes com o verdadeiro protocolo que o ato exige, a formalidade de uma audiência dentro de uma sala do magistrado tem um rito que envolve o momento e ajuda na busca da verdade, o que hoje não está ocorrendo, uma testemunha frente a frente com um juiz tem um comportamento totalmente diferente de uma testemunha falando para uma câmera, e por consequência a formação da convicção do julgador pode ser equivocada.
A ausência de contato neste setor é muito ruim para todos, e quem pode sofrer é aquele cidadão que precisa recorrer ao poder judiciário para ver resguardado o seu direito. Antes da pandemia, já havia uma certa dificuldade dos advogados em “despachar” com Juízes, Desembargadores e Ministros dos Tribunais Superiores, esse “distanciamento” sempre existiu, mas era contornado com insistência, visitas constantes ao Fórum ou a o Tribunal , a conversa direta com os assessores; porém durante a pandemia isso se tornou um verdadeiro martírio, sem falar que quando se consegue conversar com o julgador está sendo por meio eletrônico (telefone, aplicativo, etc.) tudo em razão da ausência de contato. E o que preocupa é que isso pode se tornar rotina na vida dos operadores do direito, pois tal situação pode passar a ser uma constante.
É claro que facilitou em muitos casos, audiências em Comarcas diferentes, o deslocamento desnecessário dos Advogados, dos Juízes e do Promotores de Justiça; mas isso pode se tornar uma rotina perigosa para a todos, pois a formalidade de alguns atos presenciais é essencial na aplicação da verdadeira justiça.
Por fim outra área que pode ser muito afetada é a médica, que merece ser feito uma introdução antes de falar em pós-pandemia, há tempos já estamos vendo uma transformação dos diagnósticos médicos. Nos últimos anos a dependência da medicina das máquinas tem acelerado demais, pois nenhum médico tem dado diagnóstico sem verificar os seus exames, a primeira consulta dependendo da especialidade é apenas e tão somente uma entrevista para pedir exames. Claro que com o avanço tecnológico isso ajuda na certeza do tratamento, mas o que se tem visto é cada dia mais a medicina dependendo das máquinas, tudo no corpo humano hoje é avaliado antes por uma máquina e após o médico emite algum tipo de conclusão, e com a pandemia as consultas também passaram a ser remotas, o que preocupa é ausência de contato do médico que muitas vezes é para o paciente uma maneira de se sentir seguro, até mesmo uma questão psicológica quando é uma médico de família ou que há tempos atende aquele paciente.
Estamos vendo um incentivo muito grande à esse tipo de atendimento dos médicos e por consequência um distanciamento enorme deste profissional para com o paciente, que muitas vezes a questão pode ser tratada no contato com o médico, não que deve ser relaxado os cuidados em razão da pandemia, mas é uma questão que precisa ser discutida o quanto antes, pois como dito essa dependência das máquinas para ser diagnosticado uma enfermidade no paciente aliada a ausência do contato humano, pode deixar o paciente inseguro e psicologicamente afetado. Será que em alguns anos a medicina muda e teremos apenas máquinas e robôs para avaliar o corpo humano, pedir exames e o diagnóstico também emitido por um computador?
É muito importante que a sociedade se prepare para pós-pandemia, e que alguns casos, se organize para se posicionar quanto ao retorno de como anteriormente era, a volta do “status quo” em alguns setores é essencial, pois todos temos que estar preparados para as mudanças da vida em sociedade, pois que sobrevive não é o mais forte e sim aquele que mais se adapta as mudanças, porém toda mudança tem que ser para melhor e nunca para o pior.
Bento Adriano Monteiro Duailibi
Advogado, Professor Universitário,
Pós Graduado em Direito Civil e Metodologia do Ensino Superior,
Membro da Academia Maçônica de Letras de MS.