A Maçonaria é uma instituição que foi suscita pelos Grandes Mestres da Ordem Maior, para, por um processo iniciático preparar homens pelo autoconhecimento e evolução espiritual para contribuir efetivamente para a construção da Humanidade, como construtores sociais. Assim, ao longo dos tempos, existiram homens com espíritos voltados para essa evolução espiritual, abstraindo-se, muitas vezes, da provisão do seu sustento, dedicados a uma causa que orientasse a população para algo transcendental.
O advento da Maçonaria, uma instituição com conteúdo secreto, esotérico, tornou-se então um atrativo para mentes voltadas a essa busca. Constituiu-se assim num instrumento que polarizou a atenção desses homens idealistas e se transformou num farol que lhes iluminasse o caminho, ensinando-os a atuarem na sociedade como um núcleo em torno do qual desenvolveriam os demais segmentos dessa sociedade.
Essa definição basilar da nossa Instituição e o perfeito entendimento da sua aplicação, inspirou aqui em Campo Grande, nos seus primordios, homens gigantes da estatura de Eduardo Santos Pereira e de Joaquim Cezar, que imbuídos de um ideal superior, lideraram outros homens também devotados, a tomar iniciativas de cunho social, humanitário e solidário.
Assim, em 1917, deram início à coleta de recursos para criar a Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande. Em 1919, foi constituída legalmente a Sociedade Beneficente de Campo Grande.
Em 1921, criaram a primeira Loja Maçônica em Campo Grande: A Loja Oriente Maracaju, hoje com 104 anos.
Em 1926, esse mesmo grupo de homens criou a Associação Comercial de Campo Grande, que, no ano que vem completará seu primeiro centenário.
A ligação da nossa Ordem com a Santa Casa, transcendeu o tempo e o espaço, porque permaneceu umbilicalmente ligada desde então e para sempre. A dedicação dos nossos Irmãos se perpetuou pela participação ativa na sua administração, como veremos a seguir, participaram desde o começo, como fundadores: Eduardo Santos Pereira (presidente de 1925 a 1932 e membro do Conselho Fiscal de 1934 a 1959), Joaquim Cezar, Manoel Victor Pace (diretor secretário de 1925 a 1963), e aos poucos foram se agregando centenas de Irmãos que, cada um a seu tempo, deu sua contribuição efetiva.
Participaram da administração da Santa Casa, em todo esse período, 43 maçons.
Outra participação muito importante foi o projeto arquitetônico da Santa Casa, elaborado pelo escritório do Irmão Celso Costa. Celso gravou um depoimento para o Centro Histórico e Cultural da Santa Casa, do qual extraímos um trecho que consta no livro “Santa Casa e Campo Grande – uma história de pioneirismo e solidariedade”:
“Olha para mim, é meu grande orgulho. Eu aprendi a fazer muita com a Santa Casa. Eu fui correr atrás, fui estudar, estudei, estudei. Olha era dia e noite. Com o aprendizado da Santa Casa, comecei a fazer hospitais esparramados pelo Brasil. Fui fazer também na Coréia do Sul e no Japão. Aprendi com a Santa Casa, quando eu olho para ela, que eu fiz alguma coisa que salva vidas, que tira dores, não é como projetar um edifício de apartamentos. Mas um hospital…”.
No seu projeto, olhando-se de cima, vê-se claramente a Cruz de Caravacca, relíquia cristã, de origem espanhola, considerada como amuleto de proteção espiritual a todos os males, ou mesmo a Cruz Missioneira, símbolo de foco e abnegação, trazida para a América pelos padres jesuítas.
O seu filho, Irmão Luís Eduardo Costa, destaca: “Existia um programa de necessidade do hospital, que era bem menor que o realizado. No período em que meu pai começou a desenvolver o projeto, ele apresentou o estudo preliminar, já com uma forma e área que gerou um grande questionamento sobre suas dimensões. Tinha uma metragem quadrada extremamente grande para a época. Pensava-se num hospital muito menor para ser implantado em Campo Grande, mas o meu pai insistiu e insistiu, convenceu o dr. Arthur D Ávila Filho, o presidente que estimulou meu pai, a projetar e sonhar alto”. E o resultado aí está.
A inauguração oficial das novas instalações da Santa Casa, deu-se em 1980. Um evento tão importante que contou com a presença do presidente da república, João Figueiredo, acompanhado por cinco ministros do seu governo, com a presença também do governador Pedro Pedrossian.
Um capítulo especial pela grandiosidade e humanidade do gesto, foi protagonizado pelo Irmão Luiz Alexandre de Oliveira, que, sem ser associado, doou em testamento lavrado em 22 de junho de 1992, para a Santa Casa, o Colégio Oswaldo Cruz, que veio a somar-se ao seu patrimônio, demonstrando assim o seu elevado espírito público. O local dentro em breve vai sediar a Escola de Saúde da Santa Casa, que neste momento funciona dentro da própria Santa Casa e é o embrião da nossa futura Faculdade de Medicina. A Escola de Saúde tem como diretor o Irmão Fábio Edir Costa, que, por sua iniciativa, já incorporou ao patrimônio da Escola de Saúde, uma Faculdade de Odontologia, de Psicologia e já deu entrada no MEC, aos documentos necessários para a criação da sonhada Faculdade de Medicina.
Outro trabalho dedicado, competente e humanístico, foi e continua sendo realizado pelo Irmão Sebastião Parente Teles. O Sebastião é funcionário da Santa Casa há 47 anos. O atendimento à população começou em 1928, com a inauguração dos primeiros pavilhões, ou seja, há 97 anos que a Santa Casa presta serviços à nossa população. Praticamente a metade desse período contou com a participação do Sebastião. O seu trabalho é tão dignificante que os Irmãos quando solicitam ajuda da Santa Casa, é ao Sebastião que se dirigem. Ficou conhecido como o Tiãozinho da Santa Casa.
Como vemos, a Maçonaria está, como já disse, umbilicalmente ligada à Santa Casa.
E com as bençãos do Grande Arquiteto do Universo, assim continuaremos.
Heitor Rodrigues Freire – Mestre Maçom.