A Greta entrou no quarto de brincar chutando a porta e deixou muita menina grande desapontada.
"Buaaaa, como que você ousa falar que o Ken é fraco, que o mundo é dominado por homens, e que nós podemos ser felizes sozinhas?"
A verdade é que a Greta Gerwig, roteirista de Barbie (2023), que está nos cinemas brasileiros desde o último 20 de julho, não falou isso. Mas para o pássaro que nasceu preso voar é doença, já diz o ditado.
Greta fez o filme para a mulher que teve Barbie nos anos 1980, não para aquela que quer ser uma Barbie em 2023. Ela entende a poderosa influência subliminar da boneca para muitas gerações. O mundo Barbie - o de plástico - é comandado por Barbies, bombeiras, engenheiras, astronautas, a Barbie grávida foi posta de escanteio e o Ken realmente não passa de um coadjuvante acessório. Ou alguém discorda?
Vamos lá, interpretação de texto: quem criou essa dinâmica foi a própria Mattel e não a roteirista. O que Gerwig deixa explícito no filme é o quanto essa narrativa nos deixou confusas. Não so a nós, mas aos Kens com quem nos relacionamos. Eles querem ser provedores, ativos, presidentes de país, cantores ou patinadores. Alguns querem ser companheiros de suas Barbies, e outros serem de outros Kens. Em resumo, eles querem o que a Barbie quer: ser feliz. E aí que mora o incômodo que o filme causa em alguns. Barbie não fala de brinquedos, apenas os usa para levantar temas de gente crescida. E os adultos que se desapontaram à saída do cinema foi porque esperavam ver na tela grande a vida de plástico, e não a sua própria. É como se a luz da tela grande exibindo nossa situação machucasse mais do que propriamente viver na pele esse cenário.
Quase se ouve em uníssono um grito surdo: "me devolva o filtro!