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Viviane Feitosa

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“Por ter tido distúrbio alimentar tenho uma visão profunda do tratamento” - compartilha nutricionista

10 junho 2021 - 09h46Por Viviane Feitosa

No último 2 de junho, Dia da Conscientização sobre os Transtornos Alimentares, em busca de uma fonte conhecida para falar sobre o assunto e tudo que gira em torno de Nutrição, recorri a Gabrielle Carassini, hoje Nutricionista do GANEP, equipe nutricional que atua nas unidades do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

A Gabi nasceu na capital paulista, mas se mudou para Campo Grande nos anos 90 e retornou a São Paulo nove anos depois.

Chegou a cursar Arquitetura, mas sua relação pessoal com nutrição e alimentação  - foi vegetariana por oito anos e sofreu de anorexia nervosa aos 14 anos -  a levou para a área da Nutrição, em 2003. Hoje, ela atua pelo GANEP - Nutrição Humana como nutricionista clínica na Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP Paulista e BP Mirante) e no consultório do GANEP - Nutrição Humana, além de ter escrito um livro  sobre Cirurgia Bariátrica e participado de capítulos de outros.

Para falar sobre como a sua experiência com a anorexia influenciou a sua conduta de trabalho até hoje, fiz esse convite a ela, que me respondeu de forma generosa e aberta.

Confira:

Viviane Feitosa - Gabi, obrigada por aceitar o convite para falar para o site. Conte como começou o seu início profissional na área da Nutrição?

Gabrielle Carassini Costa - Eu sempre tive interesse nos assuntos relacionados à nutrição, alimentação e vida saudável. Cheguei a ser vegetariana durante 8 anos. Tive também anorexia nervosa aos 14 anos. Esses períodos da minha vida aguçaram a minha vontade de aprofundar os estudos nessa área. Queria entender sobre os alimentos e a relação com o corpo humano. Então, em 2003, após já estar na faculdade de Arquitetura, eu larguei o curso e comecei a estudar Nutrição. Alguns meses depois, resolvi iniciar uma pós-graduação em nutrição clínica no GANEP- Nutrição Humana - equipe de terapia nutricional que atua na Beneficência Portuguesa de São Paulo e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Durante o estágio da pós-graduação, surgiu uma vaga no GANEP e estou nessa equipe até hoje. 

Atuo pelo GANEP - Nutrição Humana como nutricionista clínica na Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP Paulista e BP Mirante) e no consultório do GANEP - Nutrição Humana. 

VF - Soube que você lançou um livro há menos de 2 anos, sobre cirurgia bariátrica. Você tem outros livros além desse? Se sim, qual o tema?

GC - Na verdade, tenho um livro de minha autoria, que é o Cirurgia Bariátrica – Um Tratamento para todos, a cirurgia de cada um. E tenho participação em capítulos de outros livros, mas que não são de minha autoria. Nesses capítulos, por exemplo, abordo nutrição em cirurgia bariátrica, nutrição em terapia intensiva, nutrição em doença inflamatória intestinal, nutrição no idoso. 
 

VF - Fale um pouco sobre o perfil do paciente bariátrico:

GC - Os candidatos à cirurgia bariátrica são pacientes obesos que, na maioria das vezes, carregam diversas comorbidades associadas ao excesso de peso como: diabetes, hipertensão, gordura no fígado, colesterol elevado, triglicérides aumentado, depressão, dores articulares, enfim, doenças associadas que agravam o quadro, e que se beneficiam muito com a cirurgia bariátrica. A perda de peso acaba melhorando todo o quadro de saúde do paciente e, consequentemente, proporcionando uma maior sobrevida. 

Esses pacientes precisam ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar (médico, nutricionista e psicólogo) para garantir o sucesso do tratamento. 
 

VF - A obesidade é uma doença que atinge crianças a partir de qual idade?

GC - Na verdade, não tem uma idade determinada. Podemos ver crianças abaixo de 5 anos que já apresentam obesidade ou sobrepeso. A Organização Mundial de Saúde estima que em 2025 nós teremos cerca de 75 milhões de crianças obesas no mundo. 

Gabrielle e o precursor do tratamento de Transtornos Alimentares no Brasil, dr. Táki Córdas

VF – Você contou que um dos motivos pelos quais teve interesse em Nutrição foi a sua experiência com a anorexia. Como se deram a descoberta da doença e a busca pelo tratamento?

GC – Eu tinha 14 anos e cheguei a pesar 33kg com 1,61m. Fiquei bem debilitada. Lembro que a minha vontade era de perder uns 3 kg depois que cheguei de umas férias no Nordeste. Acabei perdendo 23kg, em poucos meses. Na época, eu morava em Campo Grande e meus pais me levaram a vários médicos da cidade mas nunca chegou a se falar em doença psiquiátrica como causa do emagrecimento. E como a minha família é de São Paulo, estávamos sempre por aqui nas férias, em uma dessa vindas, uma amiga da família e que tem uma escola disse que havia visto um caso parecido, de uma adolescente que também estava com anorexia nervosa. Por fim, essa amiga nos indicou um psiquiatra que é o precursor dos transtornos alimentares no Brasil, o dr Taki Córdas. Ele havia feito uma pós-graduação na Inglaterra sobre o assunto e se especializado. Instituiu o tratamento dos Transtornos Alimentares no Hospital das Clínicas. Já era o bambambam da área. Minha mãe foi atrás dele e eu fiz o tratamento. Semanalmente, eu  obrigatoriamente deveria passar por consultas com psiquiatra, nutricionista e psicólogo. Era um tratamento multidisciplinar, eu fiquei por uns bons anos com esse acompanhamento. E conforme o tempo foi passando fui ganhando peso aos poucos.
 

VF- Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que cerca de 4,7% dos brasileiros sofrem de distúrbios alimentares. Na adolescência, esse índice chega até a 10%. Quando se pensa no início da doença, a quais sinais os pais devem ficar atentos?

GC - Quando falamos sobre transtornos alimentares, podemos dizer que o campo é vasto. Vou focar nos principais que são: anorexia nervosa, bulimia nervosa e compulsão alimentar.

Os pais devem ficar atentos às seguintes atitudes dos filhos:

- Preocupação exagerada com peso corporal, insatisfação com o corpo;

- Seleção de alimentos dietéticos ou com baixas calorias ou restrição de alimentos;

- Vômitos, diarreia (medicamentos purgativos) ou atividade física em exagero na intenção de eliminar as calorias adquiridas durante uma refeição;

- Ingestão muito grande e descontrolada de alimentos calóricos seguida de culpa e períodos longos de jejum e inanição;

- Ingestão muito grande e descontrolada de alimentos calóricos num curto período seguida de culpa, mas sem episódios compensatórios após a alimentação;

- Perda ou ganho de peso acentuados.
 

VF - Qual seria a orientação mais apropriada para quem tem filhos e não consegue estabelecer uma dieta saudável para a casa?

GC - A orientação é tentar adequar a alimentação em casa mesmo, pois o exemplo deve vir desse ambiente. Priorize e incentive os filhos a consumir saladas, frutas, lanches intermediários saudáveis e evitar fast food e guloseimas. Uma alternativa seria procurar ajuda de um especialista, como nutricionista, que pode elaborar um cardápio para a família com alternativas saudáveis e práticas. Atualmente, há muitas empresas que fornecem marmitas saudáveis para quem não tem tempo ou não sabe como prepará-las. 
 

VF - Na sua prática, você também trabalha em conjunto com profissionais como psiquiatras e terapeutas? 

GC - Eu atuo em conjunto com outras profissões, tanto no consultório como no hospital. São especialidades médicas que variam de acordo com a patologia do paciente: nefrologista, cardiologista, oncologista, gastroenterologistas, psiquiatras, geriatras, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos, farmacêuticos, entre outros. 

VF - Qual a importância desse esforço conjunto para o sucesso do tratamento?

GC - Essa abordagem multidisciplinar torna o tratamento mais eficaz, pois temos que enxergar o paciente como um quebra-cabeça, onde cada pedacinho é uma especialidade que conversa com a outra e forma um todo, que é o paciente. As especialidades devem conversar entre si e chegar a conclusões juntas, devem se completar. Isso é primordial para a evolução do paciente. 

 

VF- Qual a relevância em ser uma  profissional que já teve o distúrbio? O quê ou como isso impacta na sua conduta?

GC - O fato de eu ter vivido isso me faz compreender melhor as dores, dificuldades e queixas do paciente. Consigo enxergar o cenário de uma forma mais abrangente e profunda. Tenho a vivência como paciente e toda a bagagem como profissional pois quis muito me especializar nessa área também. Me sinto totalmente preparada para tratar esse tipo de paciente. Me dedico com todo o meu coração.


 

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