
Se você não gosta de podcast, pode pular esse texto porque talvez não vá entender nada, a não ser que esteja realmente interessado em como se constroi (ou se atrapalha) uma narrativa no mercado digital.
E mais: como o erro, quando bem interpretado, vira aprendizado, alerta e por que não dizer estratégia. Foi isso que me motivou a gravar e publicar um vídeo no meu perfil do Instagram @vivianerfeitosa sobre um episódio tragicômico envolvendo a podcaster Camila Fremder.
Há cerca de um mês, ela foi parar por engano em um podcast que tinha o mesmo nome de outro podcast famoso. O nome? Vênus. Camila, que tem um dos nomes mais relevantes da podosfera brasileira, achou que estava indo gravar o tal podcast famoso. Só que não era. Era outro. Mesmo nome, outra proposta, outra pessoa apresentando. Tudo isso já seria motivo suficiente pra gerar um climão. Mas a coisa piora. A apresentadora do podcast (o “Vênus errado”, digamos assim) não sabia nada sobre a Camila. Nada. Nenhuma pergunta bem construída, nenhuma pauta minimamente pesquisada, nenhuma escuta genuína.
O famoso “eu por eu mesma” tomou conta da conversa. Resultado: o episódio virou uma sequência de silêncios constrangedores, frases desconexas, e uma sensação na entrevistada de “o que eu tô fazendo aqui?” pairando no ar.
E viralizou. Por todos os motivos errados. O problema não foi só o nome E aqui vai o ponto principal: quem errou primeiro ao ir sem saber onde estava indo foi a Camila. Mas quem errou também ao dar este nome a um produto que vai atuar em um segmento que já tem um player com este nome foi o Vênus Talks.
Tarefa número 1 de qualquer lançamento é fazer benchmarking, olhar em volta, pesquisar seu segmento, concorrentes diretos e indiretos.
Como se fosse pouco, a apresentadora do Vênus Talks (ou sua produção) não checaram o perfil da entrevistada. A Camila Fremder tem 43 anos, 1 filho de 7 anos e não está dentro do perfil de mulheres na menopausa, principal tópico do Vênus Talks.
E isso acontece todos os dias com marcas, pessoas, empresas e empreendedores que acham que “nomes bonitos” e “ideias genéricas” são suficientes pra se destacar no mercado.
Se você tem uma marca, um projeto ou até um podcast, vá atrás e saiba quem já está ocupando esse espaço de fala, que nomes já existem, como se comunicam, pra quem falam. Não é só questão de originalidade, envolve estratégia, clareza e respeito.
O segundo erro (e talvez o que foi o causador de tanta viralização e audiência) foi o despreparo da apresentadora. Roteiro fraco, perguntas soltas, zero interesse real na entrevistada. Um podcast não é sobre o apresentador. É sobre quem está ali como convidado.
É a tal da escuta ativa, entremeada com uma troca de ideias, construção conjunta. E aqui eu puxo uma lembrança pessoal: há três anos, criei um canal no Spotify chamado Vivências. Um nome que, sim, poderia me autorizar a falar muito de mim. Mas a intenção era outra. Eu fazia perguntas e escutava histórias. Me interessava pelo outro. Queria entender como as experiências da pessoa entrevistada moldavam quem ela era no presente.
E se você não sabe sustentar uma escuta, talvez ainda não esteja pronto para ocupar esse lugar de fala pública. Nome importa, sim. Mas o que você faz com ele importa mais ainda. O caso "Camila Fremder no podcast errado" expõe não apenas um erro de agenda, mas um erro de branding, de conteúdo e de posicionamento.
Ele revela o quanto ainda confundimos visibilidade com preparo. O quanto subestimamos a importância de mapear o mercado antes de entrar nele. O quanto esquecemos que reputação é construída, mas também é muito fácil de ser comprometida
. Então, se você está lançando um projeto, pare e pergunte: • Esse nome já existe? • Ele pode ser confundido com outro? • Estou realmente preparado pra sustentar uma conversa ou só quero me ouvir falando?
No fim das contas, todo mundo erra. Mas alguns erros viram aprendizados públicos. Outros viram virais, com publis de marcas grandes.
Foi o que aconteceu com a Camila, que na linha "do limão vou fazer uma limonada" soube aproveitar o barulho em cima de um erro bobo porque porque soube sustentar sua verdade ( "errei, não li o roteiro do programa e pedi pra agendarem a ida mesmo assim") apesar da saia justa.
A outra parte, a Renata do Vênus Talks, também ganhou alguns seguidores e a empatia de quem não entendeu ainda que nas redes digitais ou você é quente ou frio, porque os mornos quase sempre são expulsos.