Com 19 usinas de etanol em operação, o setor sucroenergético de Mato Grosso do Sul inicia o ano em nova fase, com o Renova Bio. O programa que prevê uma produção mais limpa na indústria, e que entrou em vigor em dezembro já conta com 17 usinas de etanol de MS inscritas. Com a implantação do programa o País passará a ser uma potência ainda maior na geração de energias renováveis. A afirmação é do presidente da Biosul (Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul), Roberto Hollanda Filho, que esteve em entrevista ao Programa Giro Estadual de Notícias desta sexta-feira (24).
Na avaliação de Hollanda, o programa é importante para alavancar ainda mais a produção do setor. "É um plano de Estado não de Governo. As tratativas do programa começaram em 2016 e tive muita satisfação em participar da elaboração. O RenovaBio veio na direção de acordos internacionais que o Brasil tinha assumido na redução das emissões. O Brasil já é uma potência verde no mundo e ainda assim assumiu compromissos muitos ousados", destacou.
O presidente da Biosul explica que o programa reforça a imagem positiva do Brasil nesta área. "Ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil é sim referência no mundo em termos de ser potência verde e ecologicamente correta. Por outro lado, o País vem numa crise muito grande, e nosso setor foi afetado. O País tem problema do desemprego então um estimulo como este programa ao nosso setor é muito importante. Não se trata de subsídio, não é imposto. Pelo contrário é um programa muito inteligente que foi formulado de forma democrática", adiantou. "Hoje o Brasil dá exemplo para mundo no setor de bioenergia", frisou.
Pelo programa quanto mais eficientes as usinas forem, em relação ambiental melhor graduadas no RenovaBio elas serão. "É a busca pela eficiência. O setor está muito satisfeito porque este programa vai, a longo prazo, elevar a participação do biodiesel não só nos biocombustíveis do etanol, mas biodiesel o biogás, biometano Brasil parte para ser uma potência ainda maior das energias renováveis".
Preços do etanol
Com relação ao fato dos preços do etanol não caírem apesar da grande produção do combustível e proximidade de usinas no Estado, Hollanda explicou que estas questões estão atreladas a vários elos da cadeia produtiva. "As usinas não são as únicas responsáveis pelo preço final do etanol. Existe a cadeia de distribuição que tem seu papel, e o Governo, a tributação. Em São Paulo, por exemplo que tem o maior consumo do Brasil, possui portanto uma lógica de mercado diferente . Lá o governo pode baixar o imposto sabendo que o retorno em consumo irá valer a pena. O Governo de MS agora fez programa mudança de tributação do etanol. Começa a valer em fevereiro e já estamos fazendo estudos para ver os impactos positivos. Defendo que quanto mais competividade o etanol tiver, melhor pra nós e para o povo", destacou.
Outro ponto destacado pelo presidente da Biosul foi a venda direta de etanol das usina para os postos que na opinião dele é bastante polêmica. "Vemos alguns perigos já, porque a operação de distribuição nunca vai deixar de existir. Mas por exemplo não existe esta história do etanol sair daqui e ir pra SP e depois voltar. Produzimos nas usinas o álcool etanol hidratado, aquele vai direto na bomba e abastece e o etanol anidro que vai em 27% de mistura na gasolina. Toda gasolina precisa de mistura. O Brasil deu exemplo para o mundo quando usou o etanol de aditivo, alguns lugares usam aditivos que são fortes ou tóxicos. Os EUA copiou nosso exemplo e hoje já mistura 10% de etanol na gasolina", salientou.
Hollanda lembra que o que precisa ficar caro é quais os impactos no preço final. "Eu tenho feito estudos sobre o tema. Esperamos que quanto mais competitivo for o mercado melhor pra gente. Mas precisamos com a sociedade, já que às vezes a expectativa é maior que a realidade neste assunto", esclareceu lembrando que o etanol vendido em Campo Grande, por exemplo, não tem usina muito perto. "Então e a usina que quiser vender direto para o posto daqui, o etanol vai ter que sair da usina e vir pra cá do mesmo jeito que faz com a distribuidora. Só que aqui na usina os caminhões são enormes, o caminhão bitrem de até 60 mil litros. Já o que traz até os postos são de 30 mil litros, mas com módulos pequenos. Isso demora mais a carregar, custo diferente. Por isso defendo que tem que fazer análise com calma", destacou.
A energia a partir da biomassa, que avançou no Estado, também foi destacado pelo presidente da Biosul. De janeiro a outubro de 2019, o excedente de bioeletricidade cogerada a partir do bagaço da cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul somou 2.262 GWh (Gigawatt-hora). A quantidade é 2,7% maior que o excedente cogerado nas usinas no mesmo período do ano anterior, quando foi de 2.202 GWh. Os dados são da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) compilados pela Biosul.
Ele destacou que as 19 unidades sucroenergéticas do Estado são autossuficientes na produção e consumo de energia elétrica cogerada a partir do reaproveitamento do bagaço da cana-de-açúcar utilizada na produção de etanol e açúcar. Em 2019, passou de 12 para 13 o número de usinas no Estado que exportam o excedente da energia cogerada a partir da cana para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
"Eu vivi esta mudança na usinas. Cada tonelada de cana gera 250 kg de bagaço. Isso que antes era um problema hoje vai para a queima, vira energia e abastece as indústrias. Além disso o excedente é vendido para o Operador Nacional do Sistema (ONS). O que antes era um problema para usinas hoje é mais uma fonte de renda", finalizou.