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MEIO AMBIENTE

Princípio do fim? Desmatamento desenfreado ameaça principal fonte de recursos do município de Rio Verde

Proprietário de sítio denuncia desmatamento em APA na região e Governo acata pedido da Prefeitura para suspender ação por 15 dias

18 abril 2019 - 15h47

O desmatamento desfreado próximos ao Rio Verde, que dá nome ao município localizado a 207 quilômetros de Campo Grande e onde estão as sete quedas mais famosas de Mato Grosso do Sul, foi alvo de uma denúncia desesperada nesta semana feita por meio de um vídeo postado nas mídias sociais pelo pequeno produtor rural Gilmar Mello, proprietário de um sítio na região.

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O objetivo dele era parar o desmatamento de 140 hectares de mata nativa localizados em APA (Área de Proteção Ambiental) dentro da Fazenda Nossa Senhora Aparecida. A iniciativa obteve êxito, já que, a pedido da Prefeitura de Rio Verde, a Semagro (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), por meio do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), suspendeu a derrubada de árvores na área pelos próximos 15 dias.

Porém, todo esse barulho acendeu uma luz de alerta para a situação do Rio Verde, que hoje é uma das principais forças motrizes da economia do município, baseada no ecoturismo e na pecuária. A exemplo do município de Bonito, conhecido pelas águas cristalinas do Rio da Prata, Rio Verde atrai turistas de todo Mato Grosso do Sul e também de outros Estados, que vão conhecer as belezas naturais da região e a famosa sete quedas do rio que dá nome à cidade.

Por isso, qualquer ameaça à sobrevivência do Rio Verde coloca em xeque também a existência da cidade, pois, se acontecer com ele o mesmo que aconteceu com Rio Taquari, está decretado o fim do município. O presidente do Instituto Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, alerta que esse risco existe e que as autoridades precisam ficar atentas às cabeceiras dos rios do Estado.

“Sobrevoei todas as nascentes dos rios da região e todos estão com algum tipo de comprometimento, o que coloca em risco a sobrevivência desses rios. Se continuarmos a tratar os desmatamentos de maneira isolada, o que pode acontecer é que vamos colocar em risco, não só o recurso hídrico, mas também as áreas do entorno. O assoreamento do Rio Taquari é resultado da supressão total de 95% da vegetação nativa e, infelizmente, estamos dando continuidade a um processo iniciado na década de 70 e que ainda não foi interrompido”, lamentou Ângelo Rabelo.

Ele completa que o Rio Verde pode estar indo para o mesmo caminho do Rio Taquari, pois se continuar perdendo a cobertura vegetal terá afetada a manutenção do seu volume. “Os sedimentos sendo carregados para dentro do rio vão criar uma obstrução e o rio perderá sua função hídrica, afetando a reprodução dos peixes”, alertou, ressaltando que a situação do município de Rio Verde pode ser comparada com a de Bonito, ou seja, onde duas atividades econômicas importantes, que são o ecoturismo e a agropecuária, não dialogam e o resultado disso é que todos perdem. “O saldo é negativo para todos”, garantiu.

O presidente do Instituto Homem Pantaneiro destaca que todas essas intervenções na parte alta estão se refletindo na planície, ressaltando que no planalto, na região entre Rio Verde e Coxim, já se suprimiu mais de 80% do Cerrado. “A nascente do Rio Verde é parecida com a do Rio da Prata, conhecido pelas águas cristalinas. O Prata foi tomado pela lama em novembro do ano passado e o problema de turvamento do rio levou a novas regras e debate sobre proteção em Jardim e Bonito”, recordou.

Em Bonito, desde a década de 1990, a economia se equilibrava em pecuária e turismo, mas está em marcha a troca de pastagem pelo cultivo da soja. O avanço da lavoura é feito, em geral, em terras arrendadas e com dispensa de medidas para reter a água, como as curvas de níveis. A enxurrada lava o solo, segue pelas estradas, chega aos rios menores, que vão desaguar nos chamados rios cênicos e os sedimentos turvam as águas cristalinas.

Para ele, o esforço em Mato Grosso do Sul é para que evitar essas perdas da cobertura vegetal nas áreas de nascente dos rios e córregos. “Precisamos tratar os rios desde a nascente, olhar como uma bacia, mas, infelizmente, não tivemos esse olhar no caso do Rio Taquari, se não tivermos essa estratégia, a perda já pode ser irreversível. É bom fazer a seguinte pergunta: Quanto custa para recuperar o Rio taquari? Com certeza é um valor milionário e que dificilmente será obtido”, ponderou.

Denúncia

“Essa mata toda vai cair, mata que protege o Rio Verde. O rio está a menos de 50 metros e já temos o problema da estrada muito próxima ao rio”, alertou o sitiante Gilmar Mello no vídeo postado na sua mídia social e compartilhada por inúmeras pessoas. A filmagem foi feita no dia 13 de abril quando já tinham sido derrubados 80 hectares de um total de 140 hectares. Segundo Gilmar Mello, os membros do Conselho Gestor de Meio Ambiente de Rio Verde deveriam ter sido consultados sobre o desmate, mas a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que preside o conselho, recebeu o documento do Imasul e permitiu a supressão vegetal de forma arbitrária.

Conforme consta no Resumo Executivo do Plano de Manejo, a APA Municipal Sete Quedas do Rio Verde tem uma área de 18.825,4671 hectares e situa-se em uma microbacia com área aproximada de 22.000 hectares. O documento cita ainda que a APA “foi criada através de Decreto Municipal n° 800, de 18 de abril de 2005, com o objetivo de promover a proteção da paisagem de grande valor natural e cênico, a bacia hidrográfica do rio Verde e sua diversidade”.

“Mesmo que vá desmatar, aqui só tem pedra e areia, não vai dar retorno nunca. O lugar está há 50 metros e tem um declive grande. Com o que vai sobrar, se chover, leva tudo. O balneário Sete Quedas vai sumir”, alertou Gilmar Mello, que é vizinho do balneário, ressaltando que, apesar de não concordar com a ação do proprietário da área particular onde o desmatamento está sendo feito, ele não está errado, pois ele possui licença. "Errou quem deu a licença”, frisou. Uma equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) foi ao local e verificou que a supressão vegetal tem licença do Imasul, sendo que o pedido foi autorizado em 25 de fevereiro.

Suspensão

Na terça-feira (16/04), O Governo do Estado acatou o pedido da Prefeitura de Rio Verde e suspendeu o desmatamento da área de 140 hectares de mata nativa pelos próximos 15 dias. O prefeito Mário Kruger pediu a suspensão via ofício e uma nova análise da área será realizada pelo Imasul, Prefeitura Municipal e PGE (Procuradoria Geral do Estado).

A licença que autoriza o desmatamento da área que seria usada para plantação ficou em análise no Imasul por cerca de um ano, segundo o Governo. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente recebeu o documento do Instituto e também permitiu a supressão vegetal. Porém, de acordo com o que estabelece a legislação, toda APA pode ter atividade dentro dela, pois há plano de manejo.

Mário Krug: Legislação permite o desmatamento O prefeito de Rio Verde, Mário Kruger, explica que o pedido de suspensão foi feito após conversar com o Imasul e com o proprietário da Fazenda Nossa Senhora Aparecida. “Não tem nada errado, a legislação estadual permite esse desmatamento. Dentro da APA é permitida a exploração desde que obedeça a distância de até 30 metros do rio”, afirmou, completando que se fez muito barulho por nada. “Esses proprietários rurais querem fazer barulho e estão fora da realidade”, ressaltou.

Mário Kruger faz questão de acrescenta que essa APA foi criada na sua gestão como prefeito e a atividade dentro dela não traz risco para o futuro de Rio Verde. “Estou conversando com o proprietário da Fazenda Nossa Senhora Aparecida para fazermos um acordo que contente a todos. Vamos chegar a um meio termo. Ele é compreensível e vamos conseguir alinhar essa questão, apesar de o desmatamento ser totalmente dentro da lei”, avisou.

Em Rio Verde pode acontecer o mesmo que aconteceu com lago do Parque das Nações Indígenas

O presidente do Instituto Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, alerta que pode acontecer com o Rio Verde o mesmo que aconteceu com o lago do Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. “Na nascente do córrego que abastece o lago do Parque das Nações Indígenas, a cobertura verde também foi retirada”, lembrou.

Ele completa que na Capital as autoridades também não cuidaram da nascente e o aporte de sedimentos foi levado para dentro do lago, provocando erosões e assoreamento ao logo do tempo. “A questão do lago foi tratada de maneira pontual, não cuidaram da nascente”, lamentou.

No mês passado, centenas de manifestantes, que se reuniram pela Internet, deram um “abração” simbólico no lago do Parque das Nações Indígenas, localizado nos altos da Avenida Afonso Pena, uma das principais vias de Campo Grande. Em forma de protesto, várias cruzes foram colocadas no banco de areia formado pelo assoreamento do espelho d’água que está cada vez maior.

O fato foi exposto pela mídia a partir de denúncias feitas por frequentadores do local e, desde então, teve início uma série de ações para recuperar o lago. O evento foi organizado pela população para chamar atenção do poder público e quem foi ao parque passear também foi chamado para fazer o ato simbólico.

O lago do Parque das Nações Indígenas está assoreando e a situação tem revoltado quem frequenta a região. O local é um dos pontos turísticos mais visitados da Capital, tanto por turistas como por moradores da cidade, que usam diariamente a posta de corrida e caminhada. A situação tem prejudicado o pôr do sol mais clicado da cidade.

No banco de areia que já toma boa parte do lago, chegou a ser escrita a palavra “vergonha”. A mobilização popular deu resultado, já que Governo do Estado e Prefeitura de Campo Grande vão trabalhar em conjunto pelo desassoreamento do lago do Parque das Nações Indígenas e será construído um leque de intervenções no interior da unidade e em todo entorno para impedir que sedimentos continuem a ser carreados ao local, além do trabalho de dragagem propriamente.

“O problema do assoreamento - tanto do lago principal quanto do lago de contenção, que foi construído exatamente para barrar os sedimentos - vem ocorrendo desde que o parque foi criado na década de 90. Retirar os sedimentos é o trabalho mais fácil de ser executado, mas isso não resolve. O governo tem consciência de que é preciso resolver definitivamente o problema da erosão, portanto já temos estudos, projetos e as ações necessárias. Com as chuvas menos frequentes, é possível iniciar as obras”, disse o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck.

Uma das principais intervenções acontecerá no Córrego Reveilleau, que atravessa os altos da Avenida Mato Grosso e adentra o Parque das Nações Indígenas. As obras neste local serão realizadas pela Prefeitura, avançaram bastante no ano passado, mas ainda não foram concluídas. Uma bacia de contenção será aberta acima da nascente do córrego para impedir que os sedimentos continuem descendo livremente por seu leito em direção ao interior do parque.

Já dentro das matas do Parque Estadual do Prosa, uma importante obra será executada pelo governo do Estado para recuperar as margens do córrego Joaquim Português, que se encontra com o Desbarrancado no interior da Unidade de Conservação para formar o Córrego Prosa. Os detalhes dessas obras – investimentos necessários e prazos para conclusão - serão apresentados e discutidos na próxima semana.

O secretário lembrou que o problema do assoreamento no Parque das Nações Indígenas tem merecido constante atuação do governo do Estado e que, agora, caminha para uma solução definitiva. “A dragagem dos lagos é o mais simples para ser resolvido. Já encontramos, inclusive, uma área degradada em que esse material será depositado. Mas de nada adiantaria retirar toneladas de areia se a cada chuva o lago seria novamente assoreado, porque enquanto não forem feitas as obras de contenção nas partes altas o problema persiste”, frisou.

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