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EDUCAÇÃO

Pesquisa aponta que 74% dos alunos das redes públicas recebem algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia

A rede pública de ensino brasileira está conseguindo ofertar atividades não presenciais aos seus estudantes, em um esforço conjunto de secretarias de educação, gestores e professores

27 junho 2020 - 09h27

A pandemia da Covid-19 obrigou as escolas a fecharem suas portas aos estudantes e impôs uma realidade até então inédita na educação do Brasil e do mundo. Ainda assim, a rede pública de ensino brasileira está conseguindo ofertar atividades não presenciais aos seus estudantes, em um esforço conjunto de secretarias de educação, gestores e professores, que em tempo recorde conseguiram reunir uma série de alternativas para dar continuidade ao aprendizado. Ao mesmo tempo, pais ou responsáveis e os próprios alunos tentam se adaptar ao novo cenário. Isso é o que mostra uma pesquisa do Datafolha realizada a pedido da Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures.

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Foram efetuadas 1.028 entrevistas com pais ou responsáveis por 1.518 estudantes da rede pública em todo o Brasil. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. A pesquisa quantitativa teve abordagem telefônica, a partir de sorteio aleatório de números de telefones celulares, e foi realizada entre os dias 18 e 29 de maio de 2020.

Em menos de três meses de pandemia no Brasil, é possível afirmar que 74% dos estudantes das redes municipais e estaduais estão recebendo algum tipo de atividade para fazer em casa. Entre os alunos do Ensino Médio, esse número chega a 85%.

O índice de acesso ao material é alto, pois as atividades e o conteúdo pedagógico foram disponibilizados de diferentes maneiras – plataformas digitais, materiais impressos, videoaulas gravadas e, até mesmo, rádio e televisão –, considerando as diversas realidades dos estudantes. As atividades ofertadas pelas escolas por meio de algum equipamento tecnológico (internet pelo celular ou computador, TV ou rádio) correspondem a 37%, por material impresso 3%, e recebem tanto impresso quanto por tecnologias, 34%.

“O material não substitui de nenhuma maneira o professor ou a interação social que a escola proporciona, mas mostra como a tecnologia pode ser uma boa aliada na educação”, diz Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

“Essa é a primeira de uma série de três pesquisas que têm por objetivo apoiar os gestores públicos com dados e evidências para um melhor planejamento das suas ações na pandemia. Os desafios são muitos, tanto dos estudantes quanto dos professores e gestores, que precisam pensar em novas formas de ensino-aprendizagem para manter a motivação dos estudantes e evitar o abandono escolar”, diz Angela Dannemann, do Itaú Social.

Como as crianças estão estudando em casa?
A rotina dos estudantes em casa foi outro ponto abordado com pais e responsáveis. 84% dizem que os estudantes se dedicam mais de uma hora por dia aos estudos em casa, sendo que 29% passam mais de três horas diárias. E 82% estão fazendo a maioria das atividades escolares enviadas pela escola.

Entre as principais dificuldades das atividades não presenciais estão: acesso à internet (23%), dificuldade com conteúdo (20%), falta de equipamentos (15%) e falta de interesse no conteúdo (15%).

A pesquisa mostra, ainda, que metade dos pais ou responsáveis dos alunos que receberam algum material acredita que o aprendizado está evoluindo em casa e 54% veem motivação dos alunos nas aulas. 71% também acreditam que o relacionamento em casa não piorou após o início das atividades remotas. Por outro lado, 31% dos respondentes demonstraram preocupação com a evasão escolar. Esse percentual é ainda mais alto entre pais com baixa escolaridade e menor renda. Dos pais com medo do estudante desistir de frequentar a escola quando as aulas voltarem, o percentual é maior para responsáveis com apenas o ensino fundamental (40%), com até dois salários mínimos mensais (36%) e das escolas com menor nível socioeconômico.


Acesso à internet e desigualdade regional

A pesquisa Datafolha deixa claro que as redes públicas deram passos largos nesta pandemia para chegar aos alunos e superar os desafios. Porém, eles ainda são muitos, como o próprio estudo demonstra. As desigualdades regionais são grandes, por exemplo, na oferta das atividades pedagógicas não presenciais. Na região Norte, pouco mais da metade dos alunos (52%) receberam atividades escolares na pandemia, e no Nordeste, 61%. Em contrapartida, na região Sul, 94% dos estudantes receberam algum tipo de atividade pedagógica não presencial, seguido por Sudeste, 85%, e Centro-Oeste, 80%.

Do total de respondentes da pesquisa, 24% dos estudantes das redes públicas não receberam nenhum tipo de atividade não presencial na pandemia. Essas crianças e adolescentes são, na maioria, moradoras de favelas ou comunidades (57%), cursam o Ensino fundamental 1 ou 2 (90%) e são negras (60%). 42% residem na região Nordeste e 22% no Norte do país.

Os pais ou responsáveis apontam a falta de comunicação ou de explicações por parte das escolas como um dos principais motivos para o não acesso às atividades durante a pandemia (40% justificam desta forma).

Equipamentos usados pelos estudantes

Outro ponto importante apontado é o acesso dos estudantes aos equipamentos eletrônicos. A maioria das famílias (95%) possui telefone celular. 59% dizem ter internet banda larga na residência. 50% afirmam ter de 1 a 3 equipamentos com acesso à internet, 46% com mais de 4 equipamentos e apenas 4% sem nenhum equipamento.

Aqui também as diferenças regionais são grandes. Enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste os estudantes com internet banda larga são, respectivamente, 71%, 65% e 65%, na região Norte apenas 37% declararam possuir internet, e 53% no Nordeste.

Números do Centro-Oeste

- 80% dos estudantes participaram de algum tipo de atividade pedagógica não presencial (o índice é maior do que a média nacional, de 74,4%).

- 68% tem acesso ao conteúdo pela internet.

- 84% estão fazendo a maioria das atividades escolares enviadas pela escola (o índice é maior do que a média nacional, de 82%)

Entre as principais dificuldades na rotina de estudos estão:

- 38% dificuldade dos pais (falta de tempo e não ter formação suficiente para explicar - ambos são apontados por 18% dos entrevistados).

- 13% falta de interesse dos estudantes

- 7% dificuldades de acesso às aulas

- 14% dificuldades no aprendizado

- 2% dificuldades com professores

- 65% dos entrevistados têm internet banda larga (o índice é maior do que a média nacional, de 59%)

94% tem telefone celular, 55% tv com internet e 54% tem computador ou notebook

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