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MEIO AMBIENTE

Mesmo com ação do Exército, alertas de desmatamento da Amazônia em maio dobram em relação a abril

Em apenas um mês, foram derrubados na Amazônia o equivalente à metade da área da cidade de São Paulo

12 junho 2020 - 11h25
O Inpe divulgou nesta terça-feira, 9, que o desmatamento consolidado entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi o mais alto desde 2008 e superou pela primeira vez no período a faixa dos 10 mil km2
O Inpe divulgou nesta terça-feira, 9, que o desmatamento consolidado entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi o mais alto desde 2008 e superou pela primeira vez no período a faixa dos 10 mil km2 - ( Foto: Bruno Kelly/Reuters)

Mesmo com uma operação do Exército em vigor na Amazônia desde o início de maio e com uma decisão da Justiça para que os órgãos ambientais combatam o desmatamento, os crimes ambientais continuam em disparada na região.

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Os alertas feitos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam a perda de 828,97 km² no mês de maio, alta de 12,24% em relação a maio do ano passado, quando os alertas apontaram desmate de 738,56 km². Isso significa que, em apenas um mês, foram derrubados na Amazônia o equivalente à metade da área da cidade de São Paulo.

Quando comparada com abril deste ano – que registrou 407,04 km² de desmatamento –, a alta é ainda mais expressiva: 103%.

Em todos os meses desde agosto do ano passado, o corte da floresta foi superior aos mesmos meses do ano anterior. No acumulado, o Deter indica nesse período de dez meses a devastação de 6.499 km², ante 3.653 km² no período de agosto de 2018 a maio de 2019. O aumento é de 78%.

Em maio se inicia a estação seca da Amazônia e é justamente quando o desmatamento se intensifica. No ano passado, foi a partir de maio que o desmatamento disparou. Foi quando os alertas do Deter começaram a ser destacados na imprensa estrangeira que o presidente Jair Bolsonaro começou a colocar em dúvida os dados do Inpe. Ele chegou a dizer que os números eram mentirosos e que o então diretor do instituto, Ricardo Galvão, estaria "a serviço de alguma ONG". Ao Estadão, Galvão acusou Bolsonaro de ser "pusilânime e covarde" e acabou exonerado alguns dias depois.

O Inpe divulgou nesta terça-feira, 9, que o desmatamento consolidado entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi o mais alto desde 2008 e superou pela primeira vez no período a faixa dos 10 mil km2.

No período, a Amazônia perdeu 10.129 km², de acordo com a análise feita pelo sistema Prodes, que fornece a taxa oficial anual do desmatamento da Amazônia. O valor representa uma alta de 34,41% em relação aos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, a perda havia sido de 7.536 km².

O Deter é um sistema mais dinâmico, que fornece em tempo real alertas para orientar a fiscalização em campo. Mas normalmente a tendência que ele indica, seja de alta ou de baixa, é depois confirmada pelo Prodes.

Por causa das altas que vêm sendo indicadas pelo Deter desde agosto do ano passado, especialistas já estimam que o Prodes deste ano deve trazer uma alta ainda maior que a de 2019.

“Os dados de maio preocupam e indicam uma tendência crescente de desmatamento no período, com níveis ainda maiores do que 2019 – um ano já excepcionalmente alto. Estamos diante de um cenário de total catástrofe para a Amazônia, com a expectativa de mais áreas abertas, invasões e queimadas somadas ao triste cenário do alastramento da pandemia pelo bioma”, afirma Mariana Ferreira, gerente de Ciências do WWF-Brasil, em nota à imprensa.

"De acordo com os compromissos assumidos na Política Nacional de Mudança do Clima, deveríamos reduzir à taxa de desmatamento na Amazônia para 3.900 km² em 2020. No entanto, estamos seguimos na direção contrária. Em 2019, rompemos a triste barreira dos 10.000km² e os alertas do deter apontam para a possibilidade de ter uma taxa cerca de três vezes maior que a meta estabelecida para 2020, contribuindo negativamente para as mudanças climáticas e com a alarmante perda de biodiversidade”, comenta Cristiane Mazzetti da campanha da Amazônia do Greenpeace.

Risco de mais queimadas

Em nota técnica publicada no fim de maio, pesquisadores do Inpe revelaram preocupação com o impacto que esses cortes poderão ter sobre as queimadas deste ano. "Sabemos que essas áreas desmatadas são posteriormente queimadas, e em um clima mais seco, podem causar incêndios descontrolados", escreveu o grupo liderado pelo pesquisador Luiz Aragão.

Os cientistas afirmaram que, nos primeiros meses deste ano, o oceano Atlântico apresentou um aumento de temperatura acima da média histórica, o que pode causar mais secas na região sudoeste da Amazônia e intensificar processos de queimadas. "Este ano o desmatamento nos Estados amazônicos explicou 50% da ocorrência de queimadas no início do ano, quando são mais escassas. De agosto de 2019 a maio de 2020, detectaram-se 78.443 focos de queimadas na Amazônia, maior quantidade que no mesmo período de 2018-2019", escrevem.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) também divulgou uma nota técnica no início da semana alertando que a vegetação derrubada e não queimada desde o ano passado – em uma área que pode superar 4,5 mil km² – deverá produzir queimadas intensas a partir deste mês. Isso pode aumentar ainda mais os riscos de um aumento expressivo das internações por problemas respiratórios, aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde da região, já impactados pela covid-19.

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