
Sarah de Aguiar tinha 13 anos quando começou a se cortar. A automutilação teria seguido se ela não tivesse sido surpreendida pela mãe, Weslayne de Aguiar. Depois de prometer à mãe que não se cortaria mais, Sarah pediu ajuda na escola. Foi assim o início do Projeto Asa, implantado em 2014 no Centro Educacional Gesner Teixeira, escola pública na Cidade Nova DVO, no Gama, a 42 Km do centro de Brasília.

"Quando se está nesse mundo, a gente pensa que não tem ninguém ao redor que ame a gente”, disse. “Eu não comia mais, ficava dentro do quarto, sempre com o celular na mão, conversando com essas pessoas em grupos de Facebook e WhatsApp que tratavam do assunto. Achava que elas um dia podiam me ajudar", relatou.
Foi assim até a mãe a surpreender. Sarah procurou, então, a orientadora educacional da escola, Raquel Guimarães. Mostrou à orientadora que o seu caso não era isolado: outros estudantes também se cortavam, inclusive dentro do colégio. "Depois que minha mãe descobriu, eu não fiz mais, porque eu prometi para ela que não ia mais fazer”, afirmou.
A estudante passou a colaborar com o projeto. “Entrei para o projeto e falei para a Raquel que queria ajudar. Trouxe várias meninas que eu conhecia e incentivei a parar."
Terapia de roda
O Projeto Asa reunia esses estudantes em uma terapia de roda. As reuniões foram se expandindo e começaram a envolver também as mães e responsáveis por elas. Além das rodas, as meninas tinham aulas de dança, artesanato e teatro.
A orientadora educacional envolveu a rede de saúde, preocupada porque as meninas, muitas vezes, compartilhavam as lâminas, aumentando o risco de contraírem doenças. Raquel também procurou a Polícia Civil. A apuração revelou que os grupos online dos quais as meninas participavam tinham maiores de idade que se passavam por menores e as incentivavam a se cortar e a compartilhar as fotos.
A iniciativa deu tão certo que, em 2018, as práticas integrativas em saúde entraram no projeto político-pedagógico da escola. Hoje, em parceria com a Secretaria de Saúde, a escola oferece também meditação, reiki e automassagem. Em 2017, o Centro Educacional recebeu o Prêmio Escola de Atitude, promovido pela Controladoria-Geral do Distrito Federal.
Saúde e aprendizagem
Logo após a experiência inicial, as rodas foram ampliadas. Começaram a participar alunos que precisavam de alguma ajuda, como estudantes com bulimia. Ingressaram também estudantes que queriam participar dessa inciativa pelos mais diversos motivos, como a então tímida Rebeca Barbosa, que queria dançar. Ela tinha apenas 8 anos quando começou a frequentar o grupo.
“Eu não era muito de conversar com as pessoas. Eu era muito tímida. Agora, eu sou bem aberta”, afirmou Rebeca, que também superou problemas com a própria aparência. “Hoje em dia, eu me vejo maravilhosa, eu sou linda”.
A escola pública fica em um local onde há registros de tráfico de drogas e violência e onde isso impacta o cotidiano dos alunos e das famílias. “Eu tento mostrar que eles podem mudar a realidade deles e que somente eles podem fazer isso”, diz a orientadora educacional da escola.