
A política é um instrumento racional de gestão da violência e da lei do mais forte. Ocorre que, em razão do crescimento de movimentos sociais de negação e criminalização, a política acaba perdendo legitimidade para cumprir esse papel. O resultado é o império da violência e da lei do cão. Vejamos.

Nos últimos anos, a política no Brasil foi negada e até criminalizada. Os detentores do poder econômico se aproveitaram disso para aprovar leis que os deixaram ainda mais fortes. No auge da fragilização da atividade política, durante o governo Michel Temer, inúmeras leis, ora retirando, ora flexibilizando os direitos dos trabalhadores foram aprovadas. Em meio à pauta midiática da Lava Jato, uma operação policial que se institucionalizou e tomou o espaço que deveria ser da política, essas alterações legais sequer foram percebidas por aqueles que vieram a ser prejudicados.
Na sequência, o debate sobre a posse e o porte de arma de fogo foi inserido nesse caótico cenário pela poderosa e inescrupulosa indústria bélica, que viu na fragilidade da política a oportunidade de se tornar mais rica e poderosa. Curiosamente, o candidato que sempre defendeu o empoderamento da violência e o armamento da população, embora tenha praticado inúmeros desvios éticos no trato da coisa pública ao longo da sua trajetória, acabou sendo vendido aos olhos do grande público como a pessoa que encarnava esse sentimento de negação da política e acabou eleito. O pacote anticrime também é um sintoma muito característico desse momento. Com efeito, a autorização para matar não aproveita a ninguém, senão àqueles que se enriquecem com a morte.
A quem interessa, a propósito, a guerra, senão a quem se enriquece vendendo armas para bandidos e mocinhos? À vida civilizada, certamente não é. É importante criticar e protestar, dentro de limites racionais, civilizados e democráticos, contra os políticos que cometem crimes e desvios éticos, mas jamais podemos cair no erro de confundi-los com a política, enquanto atividade humana fundamental para divisar a civilização da barbárie.
