
Desde os tempos mais remotos (quando o homem caçava para se alimentar), o acúmulo de gordura corporal representava um mecanismo de proteção e sobrevivência para os períodos de falta de alimento.
Só que chegaram os tempos modernos e a escassez se transformou em excesso de oferta e houve uma total transformação na proporção da ingesta dos macronutrientes, com o aumento exponencial do uso de carboidratos (incluindo açúcares, que não existiam) e redução importante da quantidade de fibras.
Por incrível que pareça, o carboidrato não é o vilão dessa história, mas sim os tipos de alimentos industrializados, a adição de açúcar, frutose e outros para tornar a nossa vida “mais prática” e fomentar uma indústria alimentícia que hoje tem na farmacêutica uma parceria, muitas vezes pertencente à mesma Holding. Vende-se aqui o alimento que adoece e ali o remédio que “ameniza” os sintomas das doenças.
Sabe-se que a ingestão de alimentos altamente processados e palatáveis, como bolachas recheadas, refrigerantes, etc., causa uma desregulação dos núcleos cerebrais da fome e saciedade. Um alimento rico em açúcar estimula altos níveis de insulina (hormônio anabólico e gerador de gordura por natureza), o que não permite causar saciedade e ainda desperta fome em curto espaço de tempo.
A grande maioria das abordagens foca em restrição calórica estrita, da qual nosso corpo já aprendeu a se “proteger”. Quando reduzo 5% de massa corporal em peso, meu metabolismo cai em cerca de 15% e quase imediatamente os níveis de neurotransmissores do apetite se elevam. Esse mecanismo chamamos de termogênese adaptativa.
Os mecanismos pelos quais as pessoas acumulam gordura corporal são bem mais complexos e envolvem: redução progressiva da acidez estomacal, alterações nas enzimas digestivas, desregulação profunda da flora intestinal (disbiose), processo inflamatório crônico subclínico, resistência à ação da leptina, sobretudo um nível de hipotálamo, resistência insulínica, alterações do metabolismo, deficiências nutricionais, desequilíbrios hormonais, aumento de estresse oxidativo, ingesta e acúmulo de xenobióticos, infecções subclínicas, sobrecarga do fígado, sedentarismo, fator comportamental, cultural, traumas emocionais, autossabotagem, distorção da autoimagem. Foram 19 fatores só para citar rapidamente.
Se todos os fatores não forem corretamente identificados e corrigidos com auxilio multiprofissional, o processo de emagrecimento pode se tornar um inimigo, pois muitas vezes o efeito rebote, quando o peso volta com acréscimo, acaba sendo fatal e ainda mais danoso.
Tudo começa pela decisão interna de mudar de vida e nesse contexto é fundamental o processo de fomentar o amor próprio e buscar ajuda especializada.

*O autor do texto é o Dr. Emmanuel Neto é médico clínico geral a (RQE: 3538), endocrinologista (CRM 5405 MS) e metabologia (RQE: 3539)
