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ARTIGO

As diferenças entre empreender no Brasil e no exterior

Por Gustavo Vaz*

15 março 2018 - 10h12Raiane Saraiva
No Brasil, há muito menos fundos de investimento que investem em capital de risco (a conhecida Venture Capital) do que em mercados mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa
No Brasil, há muito menos fundos de investimento que investem em capital de risco (a conhecida "Venture Capital") do que em mercados mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa - Foto: PEGN
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É de conhecimento público que o Brasil tem um dos sistemas tributários mais complexos do mundo. Temos burocracia, informalidade, corrupção e uma lista enorme de problemas. Mas meu objetivo aqui é fazer uma comparação neutra e objetiva sobre alguns dos critérios mais importantes que um empreendedor enfrenta ao longo do lançamento e crescimento de sua startup, como acesso a capital, disponibilidade de talento em tecnologia, oportunidades de negócios, custo empresa e acesso a informações. Listei algumas e explico cada uma delas:

Acesso a capital

No Brasil, há muito menos fundos de investimento que investem em capital de risco (a conhecida "Venture Capital") do que em mercados mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa. Porém, isso não quer dizer necessariamente que há uma maior dificuldade em conseguir acesso a estes fundos. No nosso país a renda é muito concentrada e no ecossistema de startups não é diferente. Há uma concentração de capital muito grande, então se o empreendedor é de alguma forma parte deste grupo, acesso a capital pode ser até mais fácil que em outros mercados mais maduros e desenvolvidos. Se você não é, o caminho pode ser um pouco mais difícil, porém não é impossível – provavelmente existirão alguns passos adicionais que o empreendedor precisará dar, como trabalhar um tempo com algum empreendedor de sucesso ou participar de comunidades.

Disponibilidade de talento em tecnologia

Talentos no mercado de tecnologia são relativamente escassos no Brasil. A quantidade de programadores per capta no país é muito menor que em outros países como Alemanha, Hungria e Leste Europeu. Além disso, esses desenvolvedores brasileiros conseguem facilmente empregos no exterior, já que são trabalhos de performance remota e os salários no exterior são mais altos e em dólar. Além disso, os que decidem ficar e crescer suas carreiras no Brasil, encontram diversas startups e empresas mais maduras brigando por eles. Uma forma para compensar, de alguma maneira, esse "gap" de recursos é oferecendo benefícios e criando uma cultura que os faça realmente satisfeito com seus trabalhos (como deveriam ser em todas áreas). Por exemplo, possibilidade de liderar projetos próprios, benefícios como ir a conferências, dar participação da empresa e envolve-los em outros departamentos como produto ou relacionamento com o cliente podem ser diferenciais e ajudar a reter talentos.

Oportunidades de negócio

Nesse ponto, o Brasil sai bastante na frente. Nosso país tem 200 milhões de habitantes e representa 1/3 de toda América Latina. Ao mesmo tempo, modelos de negócios inovadores demoram para chegar aqui, por isso nosso País é relativamente atrasado em produtos inovadores. Isso faz com que as oportunidades aqui sejam enormes e com menos competição. Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma cultura muito forte de startup e transformação de modelos de negócios tradicionais, o que faz com que a competição seja muito mais agressiva que aqui no nosso país. Nubank, Quinto Andar e Dr. Consulta são exemplos de empresas que enxergaram essas oportunidades e transformaram os mercados em que se encontram.

Custo Empresa

É natural que se fale que o custo de operar no Brasil é muito alto, porém, quando colocamos na ponta do lápis custos com salário de funcionários, custo de escritório, honorários jurídicos, contabilidade e diversos outros custos naturais de qualquer empresa, vemos que os mercados desenvolvidos são na verdade muito mais caros. Os impostos no Brasil são percentualmente altos, porém o salário de uma pessoa do mesmo nível nos Estados Unidos é quase o dobro. Honorários jurídicos, então, nem se fala – são o triplo. O Brasil é menos intuitivo, mais burocrático, ineficiente e lento, porém é menos custoso que outros países.

Acesso a informações

O que definitivamente estamos atrás é no acesso a informação, mais exemplos de empreendedores de sucesso, e em um ecossistema que facilmente absorva e motive quem quiser empreender. Nosso país é um dos mais empreendedores do mundo, porém é um empreendedorismo por necessidade. O Brasileiro é extremamente criativo e trabalhador, porém na maioria dos casos não tem as ferramentas certas. Países como Chile e Cingapura têm muito mais programas de incentivo do governo, comunidades de empreendedorismo e disponibilidade de informação.

Empreender por si só, já é um desafio. Empreender sem as ferramentas e informações adequadas, é ainda mais difícil. Mas uma vez que essas barreiras são ultrapassadas, há um oceano de oportunidades no nosso país que ainda não foram exploradas, e um ambiente propício para seu desenvolvimento.

Sobre Gustavo Vaz

Gustavo Vaz, 29, é co-Fundador e CEO da EmCasa, imobiliária digital que tem como objetivo transformar a maneira que o brasileiro compra ou vende imóvel. Durante quatro anos, Gustavo liderou o crescimento e operações da Easy Taxi, levando a empresa de uma startup a uma multinacional, presente em 30 países e com 1.500 funcionários, levantando mais de R$300 milhões em capital. Gustavo começou como CMO, lançou a empresa em diversos paiÌ ses, depois liderou as operações globais como COO. ApoÌ s a Easy Taxi, Gustavo se juntou à start-up alemã Frontier Car Group como Chief Strategy Officer, liderando globalmente os departamentos de Marketing, Produto e EstrateÌ gia. Além disso, jaÌ fez projetos de Produto para a AmBev e foi consultor de Gestão pela Gradus por dois anos. EÌ Engenheiro de Produção pela UFRJ e fez MBA em Harvard Business School.

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