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Cariocas festejam São Jorge e apontam sua conexão com a cultura do Rio

23 abril 2019 - 14h33
Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil
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Todos os anos, o bairro de Quintino, na zona norte do Rio de Janeiro, assiste à peregrinação de uma multidão no feriado estadual de 23 de abril. Vestidos de vermelho e branco, os devotos de São Jorge chegam cedo, ainda na alvorada, e ficam ali ao longo de todo o dia, espalhados pelas ruas onde também são instaladas dezenas de barraquinhas de comes e bebes.

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Na celebração, não falta samba, feijoada e cerveja. Uma roda de capoeira também anima o público. Há devotos que vestem camisas de seus times de futebol combinadas com a imagem do santo. Outros aproveitam para manifestar a paixão por escolas de samba que tem São Jorge como padroeiro, caso da Estácio de Sá, da Unidos de Padre Miguel e do Império Serrano.

O servidor público Carlos São Pedro chama a atenção para a sintonia de São Jorge com a cultura popular do Rio de Janeiro. "O carioca está precisando de alguma coisa a mais. O estado está um pouco solto, largado. E o carioca é muito religioso. Todo mundo procura uma fé. Eu achei a minha fé depois que conheci São Jorge. E ele tem essa ligação com o povo, porque São Jorge é celebrado com samba e com cerveja. Ele traz a umbanda e o candomblé. Então favorece a mistura do povo e faz essa festa maravilhosa", afirma.

Carlos vai a Quintino todos os anos e distribui santinhos com frases de São Jorge. "Tudo que eu peço a ele, sempre tenho graça, sempre tenho glória. A mínima forma de eu retribuir é propagando o seu nome. Ano que vem, se Deus e São Jorge quiserem, estarei aqui de novo", afirma.

Esse compromisso anual com o 23 de abril mobiliza não apenas católicos como também adeptos de religiões de matriz africana espalhados por toda a cidade. A estudante Jéssica Cristina, candomblecista, conta que frequenta os festejos desde criança e destaca o sincretismo religioso. O pai dela mora a um quarteirão da Paróquia de São Jorge e na entrada do imóvel foi colocada a imagem do santo diante de oferendas.

"Nós celebramos todo ano, fazemos nossa feijoada. Felizmente aqui é um espaço de tolerância. E deve ser assim. Tem gente que critica o candomblé sem nem procurar conhecê-lo. O candomblé só busca o bem", diz.

Para os católicos, São Jorge é símbolo da força de Deus na luta em favor dos povos excluídos e marginalizados. Ele é personagem de diversas histórias medievais que perduraram no tempo e que inclui o famoso relato do combate a um dragão. Na umbanda e no candomblé, ele costuma ser associado a Oxóssi e a Ogum, respectivamente, orixás da caça e da guerra.

Apelo popular

São Jorge não é o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, posto que é preenchido por São Sebastião. Mas foi devido ao seu apelo popular que, em 2001, a Câmara dos Vereadores declarou o dia 23 de abril feriado municipal. Em 2008, foi a vez de a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovar projeto de lei convertendo a data em feriado estadual.

Durante a tramitação, o projeto foi justificado diante da importância de facilitar o culto e a peregrinação dos devotos às igrejas católicas e aos terreiros de umbanda e candomblé. "A institucionalização deste dia como feriado estadual apenas coroaria o que já se concretizou pelos costumes da população e pelo reconhecimento da mídia. Ressalte-se que São Jorge é o santo mais popular", registra o texto.

Embora os festejos de São Jorge ocorram em todas as regiões da capital fluminense e também no interior do estado, Quintino é o ponto de maior movimentação e onde as missas atravessam o dia. Há fiéis que se mobilizam anualmente em agradecimento a milagres do santo guerreiro promovidos em suas vidas.

"Eu fiz uma cirurgia de canal lacrimal que foi muito complicada. Mas pedindo a São Jorge e com perseverança, voltou ao normal. Então todo ano eu entro lá dentro da igreja e atravesso para receber a água benta na saída. É um santo milagroso. É muito poder e muita benção", diz Cláudio Luiz, que trabalha como porteiro.

O ritual relatado pelo devoto é seguido por milhares de pessoas que, pacientemente, aguardam a sua vez para acessar o interior da Paróquia de São Jorge. Na saída, a água benta é jogada sobre a cabeça dos fiéis.

Programação

Como o acesso ao interior da paróquia é difícil, um telão é instalado do lado de fora e transmite as celebrações. Às 10h, a missa foi conduzida pelo bispo dom Orani João Tempesta. Na sequência, foi a vez de o arcebispo dom Roque Costa Souza conduzir a celebração. A última missa começa às 20h30.

Atendendo um pedido dos moradores, pela primeira vez, a Paróquia de São Jorge só será fechada à meia-noite para permitir que os fiéis possam prestar sua homenagem no local até o fim do dia.

Do lado de fora da paróquia, além das barraquinhas de comes e bebes, há um intenso comércio de roupas, medalhas, copos, sempre com a imagem de São Jorge. A diarista Gelza Cordeiro, moradora de Quintino, alugou um imóvel bem em frente à Paróquia de São Jorge para vender camisas e chope.

"Eu sou do Ceará. Quando me mudei para o Rio, pedi à São Jorge que iluminasse minha vida, a de meu esposo e a da família que eu estava construindo. Graças a ele deu tudo certo. Hoje, temos um filho de 13 anos e estamos muito felizes", conta. Para ela, o santo é tão milagreiro que promove inclusive a economia da região. "O movimento está muito grande. Está fluindo bem. É um dia de bom faturamento para todos os comerciantes", relata.

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