
Depois 15 anos de estrada, muitas músicas lançadas e uma carreira muito elogiada, a cantora Pitty lançou o seu mais novo álbum de estúdio, o "Matriz". A artista que está em turnê, ao longo dos meses já havia divulgado algumas prévias para o público ter uma idéia do que estava vindo por ai.

Capa de "Matriz"
Pelas canções, os fãs já sabiam que vinha algo diferente de tudo o que a roqueira já havia feito. Mas pudera, Pitty sempre teve a iniciativa de se reinventar, nunca repetiu fórmulas. Desde o seu disco de estréia, o “Admirável Chip Novo” (2003) até “Matriz” (2019), percebe-se uma extrema diferença de sonoridade, mas a essência ainda esta ali, impregnada nas composições. Matriz, sabe?
Pitty em seu disco de estreia, "Admirável Chip Novo"
Em “Matriz” é possível ver uma Pitty que grande parte do público não conhece, mas que muitos imaginavam que existia, afinal, a cantora de personalidade nunca negou as suas origens e em uma época onde cada vez mais é discutido a intolerância religiosa, xenofobia, preconceito e política, a roqueira reforçou o seu discurso e se mostrou ao que veio.
Logo na música de abertura, “Bicho Solto”, a cantora cita “eu me domestiquei pra fazer parte do jogo, mas não se engane, maluco, continuo bicho solto” – reforça o quanto é necessário se adaptar para entrar nessa indústria do entretenimento, mas que o animal ainda existe dentro dela. Animal este, que provavelmente tem sete vidas e já havia passado por poucas e boas, como deixou claro em 2014 no seu disco anterior.
"SETEVIDAS" foi muito aclamado pela crítica
Em “Noite Inteira”, Pitty traz um discurso político e que nos faz refletir: “não peço que concorde não impeça que eu fale, entendo que discorde não espere que eu me cale”. Não é preciso fazer muito esforço para entender a mensagem, e a presença de Lazzo Matumbi, reforça: “respeita a existência ou espere resistência”, traz aquele grito de liberdade de um povo que tanto luta, lembrando o mesmo pedido de ‘socorro’ presente em “Cálice” de Chico Buarque.
Pitty sempre fez com maestria as baladas românticas. Talvez o fato de fazer isso de forma despretensiosa, tornou “Equalize”, "Me Adora", “Na Sua Estante” e “Só Agora” sucesso de público. E em uma nova versão de “Motor”, é possível ver essa Pitty que estava em hiato. Os rifs oitentista, traz uma Pitty sutil com vontade de mostrar esse lado que todos conhecem e que muitos sentiam saudades.
Em “Te Conecta” a cantora surpreende com pegada reggae e nos questiona: “para pra pensar se esse é o teu lugar, aquele bom em que deveria estar”. Se você nunca teve uma crise de existência, provavelmente terá ao ouvir essa música. Em “presta atenção só no som do mar”, mostra claramente uma Pitty mais conectada com a Bahia, algo que vimos em "Sob o Sol" gravada em 2009 durante sessões do "Chiaroscuro", e que hoje resgatou as suas origens e quer que você resgate a sua também.
‘Baiana arretada’, Pitty claramente homenageia sua terra natal em “Matriz". Depois de todo anos de estrada, a cantora que foi chamada durante anos de ‘roqueira baiana’ e que algumas vezes até se mostrou incomodada com este rótulo, hoje se mostra adulta, consciente e muito conectada com suas origens ao ponto de transmitir isso em um disco inteiro. Pitty se superou e demonstrou que em meio ao mainstream, anda na contramão sendo aquele bicho solto de sua primeira banda de hardcore, o Inkoma, com muita vontade de falar e mostrar a sua verdade, que convenhamos, continua admirável.
Vale um repeat: "Bicho Solto", "Noite Inteira", "Ninguém é de Ninguém", "Roda", Motor", "Te Conecta", "Para o Grande Amor" e "Submersa".
Vale pular: Redimir e Sol Quadrado
