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COTIDIANO

Cada vez mais ameaçados de extinção, orelhões sobrevivem nas ruas de Campo Grande

O item era considerado essencial, em uma época onde telefone fixo e celulares eram considerados artigos de luxo

29 maio 2020 - 16h30Carlos Ferreira
E são dos modelos mais tradicionais, até os formatos de animais que representam o Pantanal
E são dos modelos mais tradicionais, até os formatos de animais que representam o Pantanal - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quem nasceu nas décadas que antecipam os anos 2000, sabe da importância dos telefones públicos, popularmente conhecidos como "orelhão", para os bairros em Campo Grande. O item era considerado essencial, em uma época onde telefone fixo e celulares eram considerados artigos de luxo. Smartphones naquela época? Nem pensar. Nas décadas de 80 e 90 os orelhões faziam parte da cultura popular, estando presente no dia a dia e até mesmo nas telonas do cinema, tendo um grande impacto na sociedade. Afinal, quem não se lembra da cena icônica em que Clark Kent entra em uma cabine de telefone para se tornar o homem mais forte do mundo?

É muito comum que, ao encontrar um, muitos pensem que os aparelhos não estejam funcionando, afinal na geração do "zap", quem vai precisar do orelhão hoje em dia? Mas os poucos que ainda tem no Estado estão operando perfeitamente. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), atualmente Mato Grosso do Sul tem 2.690 orelhões que funcionam 24 horas, sendo 696 apenas em Campo Grande. Apenas sete estão em manutenção na Capital. O município com menor número de orelhões espalhados pela cidade é Juti, com apenas quatro disponíveis.

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E são dos modelos mais tradicionais, até os formatos de animais que representam o Pantanal. Existe também os específicos para aqueles que apresentam algum tipo de limitação física ou auditiva espalhados no Estado. São 526 adaptados para cadeirantes e 66 específicos para deficientes auditivos.

O orelhão em formato de capivara em frente a Praça dos Imigrantes

Cartões - Os primeiros cartões telefônicos no país foram emitidos em 1992, por ocasião da Eco-92. Era muito fácil de encontrar em cada esquina os avisos: “temos cartão telefônico”. Tanto que colecionar cartões que hoje tem o custo de R$ 2,50 à R$ 10,00, virou hobbie da garotada que se reunia no recreio da escola para trocar as coleções. Em 2017 a Anatel divulgou que receita obtida com a venda cartões telefônicos foi de R$ 767 milhões em 2009. Em 2017 a receita despencou para R$ 5 milhões. Isso ficou evidente nas poucas bancas de jornal existentes, onde os proprietários trocaram a venda dos cartões pelos chips de telefonia móvel.

Operadora lançava edições temáticas dos cartões telefônicos. A edição do Pokémon fez muito sucesso na década de 2000

Dono de uma banca de jornal há 23 anos na Afonso Pena, o Degimar da Costa Melo, afirma que parou de vender cartões telefônicos há cerca de três meses. "Não vendo há mais de três meses. Por mim eu até vendia, acaba sendo um alternativa para quem faz o uso de orelhão, mas também nunca mais apareceu representantes oferecendo. Só para você ter uma noção, hoje veio um rapaz que chegou de viagem atrás de um e ele tinha dito que rodou por várias bancas e não encontrou nenhum local que vendesse", explica.

Decreto – Em 20 de dezembro de 2018, o Decreto nº 9.619, que dispõe sobre o novo Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado Prestado no Regime Público (PGMU) passou a ser vigorado. Entre as alterações, o fim de manter um orelhão a cada 300 metros nas localidades atendidas com acesso individual, e da obrigação de garantir a densidade de quatro orelhões para cada 1 mil habitantes por município, de forma que as concessionárias iniciaram a retirada de orelhões não mais obrigatórios. Ao portal A Crítica, a assessoria de imprensa da Anatel explica os orelhões estão sendo implantados por meio de solicitações.

“Nas localidades com mais de 100 habitantes, mediante solicitação, a concessionária deve ativar e manter orelhão adaptado à pessoa com deficiência e orelhão em local disponível ao público 24h por dia. Para garantir atendimento em locais onde o orelhão seja a única alternativa de acesso aos serviços de telecomunicações, foi estabelecida a obrigação de manutenção desses aparelhos em localidades com até 300 habitantes”, diz a nota.

A Anatel estimou uma redução de 77% da quantidade de orelhões existentes até o ano passado. Isso representa mais de 256 mil aparelhos extintos em todo o Brasil. Afinal, tudo é um ciclo.

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